sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Rato


Diz minha mãe que estava sozinha em casa num daqueles momentos que só as mulheres são capazes de construir: fazendo a unha, falando ao telefone com sua irmã (vulgo, minha tia) e assistindo a novela - concumitantemente, paralelamente, bagunçadamente ordenadamente, tudo ao mesmo tempo. Atenção difusa é uma nobreza que pertence ao universo feminino, mas minha mãe é um caso a parte. Sua atenção se espalha de forma especial. Tanto é que mesmo fazendo tudo isso que disse que ela estava fazendo, não passou despercebido o camundongo que passeou livremente, com sua longa calda, saindo de trás da estante e entrando calmamente na cozinha. Para tudo. Hoje, trago a história do ratinho que mobilizou minha família certa vez.

Morávamos numa casa muito legal, de dois andares, um bom quintal e tal. O condomímio era bom, mas a aparição de roedores não era novidade para a vizinhança. Nossa casa, porém, nunca tinha tido tal problema, pelo menos até à noite que minha mãe conheceu o novo inquilino. Um contexto interessante logo se estabeleceu. Meu pai não é lá muito corajoso, mas como eu e meu irmão não passávamos de dois pirralhos (talvez 14 e 12 anos), coube ao patriarca a plena missão de caçar e neutralizar o rato. Não só para a tranquilidade de espírito de minha mãe (que perdeu seriamente o sossego), mas também para a construção do velho mito do pai-herói em seus pinpolhos adolescentes. No dia seguinte, ele chegou em casa com uma ratoeira e os olhos brilhando de instinto assassino! Ratoeira? É, ratoeira.

Eu, que só via ratoeira no Tom e Jerry, curti. Minha mãe perguntou se não seria melhor colocar veneno. Meu pai, muito sabido, respondeu negativamente com o desdém de quem não quer explicar a leigos que a ratoeira é, segundo sua vasta experiência (?), o modo mais eficaz de despachar o invasor. Fomos para os fundos da casa montar a armadilha. Eu, vivendo intensamente este momento de considerável carga lúdica, assisti meu pai colocando o pãozinho e deixando a arapuca no brilho, prontinha pra esmagar a cabeça do rato. No domingo de manhã, fomos à igreja e deixamos a ratoeira no centro da sala - até então, único local onde o ratinho tinha sido avistado. Era o fim do roedor! Pelo menos, assim pensávamos.

Na volta da igreja, no carro, o assunto era um só: será que o mickey tinha batido as botas!? Saímos do carro meio afoitos - neste momento, "adultos" e "crianças" era de todo ansiedade, engraçado lembrar disso. Engraçado também deve ter sido nossas caras quando entramos na sala e vimos a ratoeira intacta. Quer dizer, intacta não, faltava um pão. Minha mãe logo disparou aquele olhar que, assim como a atenção difusa, também pertence ao universo feminino. O olhar como que dizendo "te falei que o veneno...". Mas o universo masculino também tem suas manias e obviamente meu pai se sentiu desmoralizado pelo seu mais novo inimigo e decidiu armar uma ratoeira ainda mais "na maldade" pra sangrar o roedor! E assim fizemos! Pra encurtar a história, nos dias seguintes o ratinho fez alguns sandubas com nossas ratoeiras. Entre pão e queijo, ele foi enxendo a pança. Que rato safado! Ele era muito sagaz. Pegava a comida e metia o pé.

Em dado momento, meu pai se rendeu ao veneno e passamos a ter duas frentes no combate ao camundongo. Se não fosse a ratoeira, seria o veneno. E assim vivemos dias de suspense. Sempre que alguém entrava num cômodo, o ato de ligar a luz trazia certa apreensão. Se alguém ficava sozinho em casa, pior ainda. E as clássicas recomendações pros filhos antes de sair de casa, passaram a conter "e se virem o rato, me liguem...". Mas a história em breve teria um fim.

Na época eu era uma pessoa errante, com um parafuso a menos, ou seja, tocava bateria. Ainda não tinha encontrado o unirso das harmonias musicais e vivia na escuridão bárbara dos batuques. Enfim. Numa manhã de sábado estava, como fazia muito na época, num quartinho que era separado da casa, onde tinha total liberdade para tocar o instrumento com vigor. O procedimento era esse: levava meu discman (lembrem-se: são meados 1999, 2000) com o CD do Paralamas, colocava-o num banquinho do lado da bateria e acompanhando a música. Bem, se tratando de João Barone, estava mais pra "perseguir" a música do que propriamente acompanhar, mas isso não vem ao caso. Toquei o álbum inteiro, talvez por uma hora, até que cansei. Quando fui pegar o discman no banquinho pra sair do quarto, o mesmo quedou-se ao chão, caindo perto do meu pé. Me agachei pra pegar e grande não foi minha surpresa quando vi que ao lado do discman, e ao lado também do meu pé, encontrava-se o difunto mortalmente envenenado do rato.

Ele estivera bem ali durante todo o tempo, bem do ladinho do meu pé. Deixei o dicsman no chão mesmo e saí apressadamente (pra não dizer "correndo") do quarto cheio de calafrios pra espalhar a boa nova - que naquele momento não tinha a menor cara de "boa" pra mim. Lembro ainda de meu pai depositando o corpo num pote de sorvete Kibon pra jogá-lo fora - cena bizarra. Mickey Mickey... Nos deu uma canseira. Mas no final, teve o que merece, rato safado!
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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Creatina


Arnold Scharzenegger era fortinho quando era mais novo. Meu bíceps é mais ou menos isso aí. Um pouco menor, admito. Apesar de já ter frequentado a academia por duas temporadas, não surtiu muito efeito. Meus braços não engrossaram, meu peitoral não estufou, nem meu abdomen endureceu significativamente. Sorte minha que sempre tive um corpo escultural.

Há quem diga (eu, entre estes) que fui ingenuo de acreditar que só puxando ferro meu corpo mudaria de aparência. É, talvez eu devesse ter me rendido a alguns "remedinhos" para fazer o milagre do crescimento. Talvez um dia eu o faça. Mas não fiz porque tomar pílulas, bombas, injeções, ou qualquer artemanha para acelerar processos naturais de fortificação é essencialmente contra os meus princípios. É, sou um homem de princípios e tenho vários milhões. Tantos que às vezes não sei nem explicá-los direito, mas enfim...

Outro dia, porém, me surpreendi. Estava eu em um raro momento televisivo, zapeando, quando de repente vejo uma propaganda em horário nobre de creatina! Creatina é uma substância conhecida por estimular a explosão e dilatação muscular, e até pouco tempo atrás tinha venda e uso restrito à prescrição médica! A Anvisa, porém, autorizou a budega e agora até propaganda na TV a creatina tem! Parece que não há mais problema nenhum em consumir o troço.

Engraçado porque legalizada e banalizada, a creatina vai ganhar status de mero "estimulante muscular". Tipo um açaí, ou uma vitamina de abacate, só que com o fator X adulterado. Daqui a alguns anos aposto que a mãe vai levar seu filho de 10 anos no médico procurando uma solução pra falta de apetite e sub-peso de seu filhote. O médico vai examinar o moleque, pesar, tirar as medidas e dizer "É, mamãe, vou receitar aqui uma dose de creatina diária pro nosso garotão ficar forte... ok?" Óleo de Bacalhau é coisa do passado!

Produtos como Neston, Sustagen e Aveia vão perder grana, a creatina tá chegando pra bombar geral! Quem sabe até os bebezinhos não entram na dança? Pra não perder mercado, a nestlé daqui a pouco lança o "Leite Ninho Creatina, pro seu bebê crescer maromb... quer dizer, forte e saudável".

Uma coisa eu sei, com essa legalização da parada, um dos meus vários milhões de princípios terá que ser revisto. Se até os bebezinhos daqui a pouco estarão caindo dentro, porque eu vou ficar de bobeira? Não tô com muito tempo de malhar agora, mas se voltar, não vou de Biotônico Fontoura não.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Olhar Clínico


O sol ainda escalava o céu em busca do meio-dia. Não passava das 10h, talvez 10h30. A praia não estava cheia, pois apesar do ensolarado o dia não era quente. Outono tem desse "friozinho". Bom de ficar jogado na areia. Debaixo do infinito céu sem nuvens, cantarolava Raul. Sempre gostei de ir à praia sozinho. Na verdade, sempre gostei de ficar sozinho. Minha mãe costumava dizer "João Paulo, você ainda vai morar numa caverna!" Fico ali, sem falar nada, só percebendo o que acontece ao meu redor. Gosto de olhar para as pessoas. Sinto-me como um grande especialista do comportamento humano. Digo sempre poder conhecer a fundo as pessoas só de olhar para elas. Tenho olhar clínico.

Mas naquela manhã na praia, meus olhares estavam concentrados em uma só pessoa - uma figura angelical. Nunca pensara que pudesse existir criatura tão linda. Indagava-me como o namorado de uma mulher com cabelos como aqueles permitia que ela fosse à praia sozinha (sim, porque uma mulher daquelas certamente tinha um namorado - poria minha mão no fogo, como não?). Pensava no que deveria dize-la, afinal, lá estava ela ao sol, sozinha. Tinha que agir rápido antes que minha Afrodite decidisse ir embora. Minha autoconfiança ajudou-me a vencer a inércia e ir em sua direção, mesmo que durante aqueles poucos passos não soubesse ao certo o que iria dizer.

Fui me achegando com os olhos sedutores em cima dela. A partir de certa distância, percebeu minha aproximação, mas ainda assim continuei olhando-a fixamente. Com a voz ligeiramente agravada perguntei: "Oi, gatinha, qual seu nome?" No que ela me respondeu: "João Paulo". Despedi-me friamente do meu xará pensando em como são estranhos os dias em que vivemos.
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terça-feira, 19 de julho de 2011

Charlie


Tv é lgal, né? Há quem goste mais e quem goste menos, mas todo mundo gosta. Alguns arrogantemente dizem "eu quase não assisto tv". Mas "quase" não assistir tv já consiste em assistir, por baixo, 1 ou 2h por dia! É um vício nacional. Aliás, mais do que nacional, a tv é um vício mundial! Quando o demônio de um olho só decide nos distrair, todo o resto perde a importância, não é verdade? Somos capazes de ficar 30 minutos do lado de 2 ou 3 pessoas sem que falemos nada. Aliás, sem que falemos e sem que pensemos nada, incapazes de refletirmos sobre qualquer coisa que não seja o que estamos assistindo.

Pensando bem, muitas vezes não refletimos nem sobre o que estamos assistindo.

Two and a Half Men é a série de maior sucesso na América Latina. Até antes de Big Bang Theory "explodir", era a mais famosa dos EUA também. Depois de Friends, que terminou em 2004, as histórias de Charlie, Alan e Jake Harper são as que mais divertem o Brasil no segmento dos sitcoms (seriados de comédia, geralmente com plateia e 30 minutos de duração). Realmente, eles mandam muito bem e é impossível não rir com o programa.

O que eu falava sobre não refletirmos sobre o que assistirmos, porém, é muito pertinente quando olhamos para Two and a Half Men. Conseguimos achar o protagonista da série, Charlie Haper, o máximo, mas não somos capazes de pensar que o cara representa tudo o que não deveríamos admirar ou mesmo admitir. O personagem interpretado pelo ator Charles Sheen coleciona relacionamentos artificiais, trata o irmão como um cachorro vira-lata, não tem amigos de qualquer espécie, oferece um péssimo exemplo ao sobrinho, trata a mãe como um inimigo.

Tudo isso parece até forçação minha, eu sei. Não tem como ser diferente, já que a série muito bem escrita é extremamente competente em projetar tudo isso de uma forma leve e "engraçadinha". O mais interessante pra mim é a relação do cara com a bebida. O programa simplesmente propaga uma apologia ao hard drinking way of life descaradamente! Por capítulo, os personagens aparecem com uma cerveja ou com um copo de vodka na mão de 3 à 5 vezes! E essa apologia é exaustivamente verbalizada pelo Charlie, que não se cansa de brincar e defender a bebida como um simples instrumento de felicidade.

O nome do personagem não é "Charlie" a toa. O pianista autor de jingles e morador de Malibu é claramente um sátira de si mesmo, um espelho do ator que o interpreta. Charlie Sheen é conhecido por seu estilo de vida irresponsável. Coleciona escândalos com drogas, prostitutas e até violência doméstica. Aliás, a Warner demitiu Sheen há pouco tempo atrás depois do ator ter dado uma entrevista à uma rádio americana - aparentemente bêbado - onde xingava o elenco e a produção da série.

Pelo visto, a bebida só faz bem na historinha do Two and a Half Men. Na real, o cara ta se estragando. Continua sendo o ator mais bem pago da tv americana e parece que vai ser o protagonista de uma nova série dentre de pouco tempo. Mas sabe como é né, não seria diferente!, o que o show business mais quer do que uma estrela louca que de vez em quando dá uns vexames?

Continuo assistindo a Two and a Half Men. Sou fã. Mas há uma diferença muito grande quando se assiste o programa sob a perspectiva certa. Infelizmente, acho que muita gente, inclusive e especialmente a molecada, que não assiste dessa forma. Todo mundo quer ser o Charlie Harper, mas ninguém tá ligado que a realidade aponta para o Charlie Sheen, que como mostra o vídeo abaixo, é um cara deprimente... Na realidade, a piada não tem graça nenhuma.

http://www.youtube.com/watch?v=aGqt4AoKbGk
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Porteiro


Descemos pro play e começamos a jogar bola. Éramos só três meninos e por isso não tinha muita graça. Eu, meu irmão e mais um vizinho. Os nossos outros dois amigos que sempre jogavam com a gente não estavam dessa vez, por isso não tínhamos outra escolha a não ser ficar batendo bola sem objetivo. Acho que era sábado. Sábado de manhã.

De repente a bola foi mal tocada por um de nós, e mal dominada por outro. Escapou. Se perdeu pra além do lugar onde estávamos. Antes, porém, que um de nós fosse buscar, ela voltou. Não por si só, mas nos pés de alguém, o porteiro.

Durante muito tempo o porteiro do Ed. Leonardo Nogueira foi o Seu Bené, um senhor manco que ficava na dele na maior parte do tempo, a não ser quando a gente corria no lugar que não podia - aí ele decidia falar: dava esporro e reclamava da vida como que dizendo que a gente não tinha ideia de como a vida dele era difícil. Como se crianças de 10 anos pudessem entender isso.

Antes do Seu Bené teve outros porteiros, mas não lembro deles, com a exceção desse que tocou a bola de volta. Ele trabalhou lá no prédio durante pouco tempo. Era um cara negro, muito escuro, forte, que usava sapatos pretos muito bem lustrados. Não lembro do rosto dele. Na verdade, a única lembrança que tenho dele é desse dia, do futebol.

Ele não só trouxe a bola de volta, como jogou com a gente. Deixou o serviço pra lá e decidiu brincar com aquelas três crianças. E ele jogava muita bola! Lógico que minha memória infantil tende a fantasiar um pouco, mas não importa, é o que eu lembro. O porteiro sem nome fazia embaixadinhas com facilidade, tocava, dominava, driblava a gente. Nós três tentávamos tirar a bola dele e mesmo em 3 contra 1 não conseguíamos.

No princípio, tentou jogar discretamente, sem fazer muitos movimentos, como que só "colaborando" pra nossa diversão. Mas aos poucos foi se soltando e depois de um tempo já estava todo suado. De repente, disse qualquer coisa sobre voltar ao trabalho e se foi. Cansados, sentamos no chão e ficamos por ali, sendo crianças numa manhã de sábado.

Depois daquele dia, ele sumiu. Acho que foi demitido. Quem sabe virou jogador profissional nas Oropa. Ou foi lavar o chão de outro prédio. Não sei o nome dele. Posso chamá-lo de Edson. É... Edson. A negritude e a habilidade do rei Pelé.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Intrometida


Muita gente não para pra perceber o poder que Hollywood tem sobre o consciente coletivo. A coerência que os filmes obedecem através de regras muito sutis vão moldando nossas visões sobre vários aspectos da vida. Coisas como "a felicidade suprema da vida está em um relacionamento amoroso", "no final o bem ganha", "toda pessoa, no fundo, só procura um grande amor", "o crime não compensa" são absolutos hollywoodianos que vão sedimentando nossas opiniões. Não estou dizendo que eles inventaram essas coisas, só estou destacando a considerável participação deles em corroborá-las. Ah! Vale destacar que essas afirmações não são, em sua totalidade, verdadeiras, né? Mas não falarei sobre isso.

E não é papo de teoria da conspiração não. Aliás, eu sou contra delas. Parece que tudo que a Coca-Cola, o MacDonalds e a Rede Globo fizerem tem uma contextualização escondida e maligna. Mas enfim, ontem assisti Transformers 3 e mais uma vez, em dado momento do filme, vi a bandeira americana ao fundo. Despretenciosa, mas presente. É qui jogo no ar: ela sempre está presente. Não sei se você já parou pra pensar nisso, mas ela sempre está lá. Mais cedo ou mais tarde (ás vezes mais cedo e mais tarde) ela aparece.

Não importa o filme, o ator, a época, a civilização, o planeta! Ela está presente sempre! Se procurar, acha. Regra absoluta de Hollywood: Todo filme tem que mostrar pelo menos uma vez a bandeira com listras vermelhas e brancas e 50 estrelinhas na parte noroeste do pano. A gente nem percebe mais. Ela passa diante dos nossos olhos e nem a notamos! Saímos do cinema e vamos comer no McDonalds, comer no Pizza Hut ou comprar uma roupa da nike. Agora, você acha que essa mensagem subliminar da visualização massiva da bandeira não colabora para uma americanização despercebida? Não é tudo um plano de dominação intelectual? Não acha? Hein? Hein? É... eu também não. Não me lanço a construir teorias idiotas, só quero destacar o quanto a tal bandeira está irritantemente presente nos filmes!

Transformes conta a história de robores que defendem a terra contra outros robores. Nessa guerra titânica entre monstros metálicos de 20 metros (impossível não lembrar do Megazord), o jovem e esmirrado Sam tem sempre um papel fundamental, salvando o planeta Terra. A velha síndrome de Jack Bauer - salvar o planeta. E no meio dessa trama, de algum modo aparece a bandeira dos EUA. Nada a ver, né!? Talvez você não ache nem tão surpreendente a minha fala, mas isso é só uma prova de que você já se acostumou com a aparição dela, porque uma guerra entre robores alienígenas não tem nada a ver com a bandeira dos Estados Unidos!

Missão Impossível, O Mentiroso, Duro de Matar, Dia de Treinamento, Os Infiltrados, Senhor das Armas, Matrix, A Procura da Felicidade, Batman, O Dia Depois de Amanhã! Ela está sempre lá. Pendurada na parede, na varanda da casa, estampada na blusa de alguém, tatuada no braço do soldado, um adesivo no carro, sei lá! Se você for num mundo devastado por um vírus em Eu Sou a Lenda, lá está ela! Se você for pro futuro em Eu, Robô, lá está ela! Se for no passado em Resgate do Soldado Ryan lá está (ok, essa foi óbvia. Segunda Guerra tem que ter mesmo). A apelação é tanta que se você for no Império Romano em Gladiador, você acha a bandeira! Sério! Até em Star Wars, na guerra entre os Jedis e o Darth Vader, vai ter uma bandeira dos Estados Unidos! Se assistir com atenção Rei Leão tu acha uma bandeira! É só procurar!

Está lançado o desafio. Ligue a antena e você verá a regra absoluta de Hollywood. E tenho dito.

[Textos sempre às terças e sextas]

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canção Esquecida

Era um dia como o de hoje, cinza. O vento soprava agressivamente na varanda e a temperatura namorava deliciosamente os 20 graus. A inspiração me levou ao quarto, ao violão e ao caderno. 20 graus? Em 20 minutos nasceu uma música sobre o cinza. Sobre o conforto das cobertas, sobre a calma e o silêncio do nublado, um dia sem sol, sem suor. Era um tipo mpb, um pé na bossa, com um refrão legal, fácil de cantar. Juro que era uma boa música.

Pois eu só posso zoar. Porque eu esqueci a música. Esqueci até que ela existia. Um dia, meses depois, lembrei que a tinha feito. Corri pro violão e tentei tocá-la, nada saiu. Os resquícios que ficaram na mente não foram suficientes para recriá-la. Triste, né? Mas vida de compositor é assim mesmo. Escreveu, não leu o pau comeu. Ou compôs e não escreveu, esqueceu.

Tô pensando em aproveitar esse dia cinza de hoje e fazer outra música. Não sei, acho que no fundo eu tenho a esperança daquela música renascer como a fênix de algum lugar inóspito da minha memória. Quem sabe eu ainda cante a canção esquecida.

[Textos sempre às terças e sextas]

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Correria


Não diria que a noite estava fria, apenas com uma "friaquinha". Saí de casa com um casaco fino, calça jeans e tênis. Num bolso do casaco, a chave de casa. No outro bolso do casaco, minha carteira. Num bolso da calça, meu celular de onde saíam os fones até meus ouvidos. Na mão, apenas um traquinas de chocolate. Por volta das 18h30, não tive a fome suficiente pra jantar antes de sair, mas sabia que logo a sentiria. Assim saí, despretenciosamente, descendo a ladeira costumeira, de bobeira, daquela quinta-feira. Toda a tranquilidade, porém, fugiu a galope quando vi meu ônibus se direcionando ao ponto, no momento em que pelo menos 50 metros me distanciava dele. O único ônibus que me serve. Aquele que demorará uns 15 a 20 minutos pra passar de novo. Não pensei 2 vezes. Corri.

Corri segurando os bolsos. Correr de calça jeans é meio tenso, mas corri confiante porque o ônibus pararia no ponto e eu teria tempo de alcanç... Êta ferro, ninguém fez sinal, ninguém quis descer. Lá se foi meu ônibus. Na hora percebi que o sinal situado a uns 50 metros depois do ponto estava fechado. Nem diminui o ritmo, continuei no estilo Usain Bolt e meti o pé no acelerador. Nesse exato momento, dois desastres simultâneos: minha chave cai do meu bolso e o sinal abre. Uns raio de desânimo me faz parar. Na verdade eu só percebi que a chave caiu porque o pessoal do ponto de ônibus (por onde o ônibus passara há 10 segundos e agora quem passava era eu) gritou!

Eu vinha correndo, de modo que quando parei a chave já estava a uns 10 metros atrás de mim. Um senhorzinho então me surpreendeu. Possivelmente, tinha me visto perder o ônibus e entendido minha situação. Não sei. Só sei que ele, percebendo estar entre eu e a minha chave, correu até elas, pegou rapidamente no chão e correu até a mim pra que eu continuasse minha missão. Confesso que eu já tinha desistido, mas o coroinha me constrangeu. Dane-se que o sinal abriu, agora o ônibus estava parado no ponto seguinte, aquele do final da rua, que tem até um sinal e um pequeno congestionamento. Era tudo ou nada! Corre Forrest!

Corri e corri. Talvez nesse momento eu tenha sentido o primeiro traço de cansaço. Mas ele estava tão perto. Já me gabava pelo prêmio do esforço. Eu iria conseguir. O sinal abriu, eu apertei o ritmo. 30 metros, 20 metros, 15, 10... Lá se vai o maldito de novo. Chegou ao cruzament, virou à direita e foi-se embora. Novamente cheguei ao ponto atrasado. 5 segundos de atraso. Mãos no joelho, o coração batendo forte, o traquinas completamente remexido em algum lugar entre a boca e o estômago, a fronte transparecendo meu desânimo. Eu tinha corrido até ali seguramente uns 300 metros - em marcha forte, de calça jeans e casaco! E com um pacote de biscoito na mão!

Eis o apse da minha aventura! Dali o ônibus pegaria uma rua que tinha 2 pontos e um sinal. Ao sair desta rua, atravessaria a avenida e pararia no shopping, onde várias pessoas descem e sobem. De onde eu estava, eu poderia chegar ao cruzamento e ao invés de virar a direita como o ônibus, poderia ir em frente e ir correndo até o shopping, na esperança de chegar lá antes dele. Putz, mas essa opção me daria correr mais uns 400 metros! Não é hora de pensar muito! Partiu Usain!

Corri. Assim que passei do cruzamento, minhas pernas já começaram a reclamar. A rua tinha um pequeno declive e quando cheguei nessa parte não aguentei, diminui o ritmo. Agora parecia que estava batendo um cooping. Quem olhasse, não entenderia nada. Estava correndo sem pressa como num momento de lazer, mas com uma roupa como se estivesse indo pro shopping. Corri e não parei. Já estava bufando e o trakinas já estava indeciso se descia ou voltava à boca. Ao chegar ao final da rua já praticamente andando, não acreditei quando vi o ônibus cruzando a avenida e parando em frente ao shopping. Minha saga estava chegando ao fim. Atravesse a rua andando e ainda fiquei, ironicamente, uns bons 30 segundos na porta até conseguir subir no coletivo.

Ao passar pela roleta, tinha certeza de que vomitaria. A vista estava escura, estava tremendo, suando frio. Sentei, tirei o casaco e abri a janela. Fechei os olhos e fiquei respirando fundo até a sensação ruim passar. Tudo deu certo. 30 minutos depois já tinha chegado ao meu destino. Mas na hora de levantar e puxar a cigarra, preferi deixar o trakinas lá no banco. Só de olhar pra ele, passava mal.

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Cidade natal

Dizem que o Papai Noel vive no Polo Norte, de onde sai todo dia 24 de dezembro em seu trenó voador com renas mutantes para entregar presentes para crianças de todo o mundo (ou seriam só as crianças norte-americanas?). Ele invade as casas pelas chaminés e coloca os presentes perto das árvores de Natal. Na moral, toda lenda tem sua carga lúdica, mas essa história é a mais imbecil que existe!

Historinhas da caroxinha à parte, eis que a verdade vem à tona, e a verdade é uma somente, senão a que o Papai Noel não vive no Polo Norte. Se um dia morou lá eu não sei, mas o país onde reside o bom velhinho é o país do futuro, candidato a principal potência econômica do sécXXI. China, lá vive o barbudo mais amado do planeta - mais precisamente na cidade de Yiwu.

Explico: essa cidade chinesa é a mais importante no christmas business no mundo! Estima-se que dela saem - pasmem - 90% dos artigos natalinos consumidos por todo o globo terrestre! Bolinhas, pinheiros, papais noéis, pombas brancas, grinaldas, botinhas listradas, renas, mamães noéis, gorrinhos vermelhos, pisca-pisca... Tudo isso! Ops, os presépios também (quase esqueci deles...)! Tudo vem de uma só cidade! Perceba, não estou falando que 90% dos enfeites de natal vêm da China (o que já seria absurdo), estou falando da cidade de Yiwu! É ou não é a casa do Noel!?

Mais de 200 mil pessoas vão diariamente a Yiwu atrás das bugingangas. Em 2010 a cidade faturou cerca de US$3,239 bilhões! Pelo jeito nessa cidade só tem enfeite de natal! Presente de aniversário por lá: enfeite de natal. Dia dos namorados: enfeite de natal. Dia das mães: enfeite de natal. Chá de bebê: enfeite de natal.

Acho que em Yiwu se come rabanada o ano inteiro e o espírito natalino já faz parte do dia-a-dia das pessoas nos 365 dias do ano. É tanta gentileza e boa vontade que todo mundo já tá de saco cheio! Neva o ano inteiro também e todo fim de semana algum ator se veste com roupas marotas vermelhas e desce de helicóptero no estacionamento de algum shopping pra distribuir presentes para criancinhas ingênuas. Ah! Nessas circunstâncias, os atores de Yiwu usam óculos escuros. Sabe como é né, não pode dar pinta. Bom velhinho chinês não rola. Grande hipocrisia, é verdade. Afinal, Yiwu é a casa do Noel.

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Churreia


Legal pensar que o nosso corpo é uma máquina perfeitamente desenvolvida para as diversas situações pelas quais podemos passar (ou podíamos passar). Por exemplo, os pelos. Eles não estão espalhados pelo nosso corpo a tôa. Eles nos protegem do frio, ora! Por isso os negros têm menos e os de origem nórdica-europeia têm mais. Aqueles vieram da África, de lugares quentes, esses vieram do norte do globo, onde o bicho pega com o frio. E também por causa dessa relação com a temperatura, temos mais pelos na cabeça, um pouco menos nos braços e nas pernas e menos no troncos (fora os peludões né...), já que são as partes do corpo que recebem mais sol e tal.

As unhas protegem as extremidades de nossos dedos contra choques e a sujeira. Além de servirem de garras, que na verdade deixaram de nos ser úteis depois que desenvolvemos facas, tesouras, agulha, e outros objetos de serventia específica. Temos dois olhos, dois braços, duas orelhas, duas pernas. Por mais que nossos corpos sejam, teoricamente, simétricos, o fato é que dessa forma temos órgãos reservas pro caso de algum acidente ou deficiência.

enfim, muitas coisas no corpo têm suas aplicabilidades antropológicas. Mas existe uma parte do nosso corpo que não me diz nada. Só está ali pra ser despercebida e, especificamente no meu caso, ser odiada. Falo da churreia.

Churreia é a parte dos dedos entre as unhas e as costas da mão. O que me irrita não é a churreia em si, já que se não fosse por elas nossas unhas seriam grudadas na mão (que bizarro, imagine uma mão sem dedos) mas o fato das churreias serem cabeludas! Putz, por que? Ta aí, primeira pergunta a ser feita ao Senhor Deus, soberano sobre todas as coisas:
- Bem vindo meu filho Jôn...
- É, é, valeu! Olha só, qual é do pelo na churreia!?

Algumas churreias são mais cabeludas que outras. Umas tem cabelos encaracolados, outras já tem cabelos lisos, escorridos. Tem gente que tem churreia cabeluda até no pé, na verdade é até normal. Na minha opinião, as churreias demasiadamente cabeludas nos pés são as mais feias. Enfim, nesse pensamento antropológico, meio darwinista, eu tentei sacar a funcionalidade da churreia cabeluda, mas nada me ocorre. No final das contas, acho que elas só existem pra compor as mãos e pés. Não têm função, só ocupação.

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

10 anos

Sou muito mais clubista que brasileiro quando o assunto é futebol. Pra mim, o Flamengo é muito mais importante do que a Seleção Brasileira. Só torço pro Brasil na Copa do Mundo, e muito mais pela festa na rua, pelas folgas no trabalho e a reuniãos dos amigos pra torcer. O Flamengo é outra história, toda semana tem um compromisso e aquela vibe de torcedor é constante. Sou feliz com meu time e tenho alguns momentos bons pra recordar - escolho dois para aqui registrar. Um pela importância, o outro pela circunstância.

O Brasileiro de 2009 foi muito marcante porque eu cresci ouvindo que meu time era o que tinha mais títulos brasileiros, mas nunca tinha visto o caneco sendo levantado. Por mais que seja legal escutar sobre o time do Zico, Júnior, Andrade, Adílio, Raul... putz, chega uma hora que enche o saco e você quer o time do "agora" vencer e ser o melhor. Essa parada aconteceu finalmente em 2009, e de uma forma legal, com o Flamengo pegando uma sequência de vitórias absurda. Num campeonato com 38 rodadas, o time só ficou na ponta em 2. A penúltima e a última. Adriano e Petkovic foram decisivos. Pet, inclusive, que me leva ao segundo momento.

Há exatos 10 anos, no dia 27/05/01, o Flamengo conquistava o tricampeonato carioca em cima do Vasco. Sem querer tirar onda, o título carioca em si já não enche mais os olhos do flamenguista, pois são muitos nos últimos anos. Mas aquele jogo foi sensacional! Todo flamenguista lembra bem daquela falta que o Dejan Petkovic bateu. Pra mim, esse episódio é emblemático em relação ao poder do futebol. Naquele dia, todos os flamenguistas passaram a ser mais flamenguistas. Aos 43 do segundo tempo, se o jogo terminasse 2 x 1 pro Vasco, o time de São Januário seria campeão. Se fosse 2 x 2, o Flamengo levaria o título.

Eu estava, acredite se puder, dentro da igreja! É mole? O jogo foi no horário que normalmente rola o ensaio da banda da igreja. Eu não sei quem foi o otário que não desmarcou o ensaio naquele dia. E eu também não sei porque eu simplesmente não disse: "Dane-se, vou ver o jogo". O fato é que eu estava ensaiando musiquinhas aleatórias, tocando bateria e com o rádio do walkman (é, walkman! Foi em 2001!) no ouvido. Obviamente eu não era o único interessado na partida e eu, entre uma música e outra, dava o parecer do jogo aos meus companheiros.

Quase no fim, o ânimo da derrota já estava se abatendo. Até que veio a falta. Nessa hora, no ensaio, estávamos no meio de uma música. Quando a bola entrou, eu simplesmente larguei a bateria, o walkman, e saí correndo, comemorando, buscando a rua, os fogos, a alegria do universo cósmico pleno e rubro-negro da profundidade flamenga! A música, cortada bruscamente pela ausência da bateria, atravessou - lógico. E o resto da banda não teve outra alternativa a não ser pegar o walkman no chão e se certificar de que realmente tinha sido gol, antes de se juntarem a mim (e ao mundo) na festa pelo título.

Já ouvi dizerem que supervalorizam esse lance. Não sei. Como se não bastasse ser impressionante o fato do jogo se decidir aos 43 da segunda etapa, se tratava de uma final de campeonato, de um tricampeonato, onde o adversário era o mesmo pelo 3º ano consecutivo. E a falta era longe. E o goleiro era bom. E no banco estava o velho lobo Zagallo (!). Enfim, são vários fatores que tornam esse dia impressionante. Eu, como genuíno praticante da tradição flamenga, presto tributo ao gol do gringo. "Vencer, vencer, vencer... até morrer".

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Busão

Me impressiona como nossos amados governantes desenvolvem maneiras as mais criativas de dificultar a vida do povo trabalhador e digno, do queal faço parte. E não digo das filas nos hospitais, instituições de ensino sucateadas, policiais com salários ridículos (e ainda cruxificam os caras pela corrupção) e o super-ultra-mega-faturamento de obras públicas. Falo de algo muito manos dramático.

Menos dramático até do que os asfaltos esburacados por toda a cidade (menos a zona sul, lógico), os carros de R$70 mil que os vereadores da nossa amada cidade aprovaram para eles mesmo e depois voltaram atrás (e não é que ainda existe um pingo de vergonha na cara desses sujeitos?) ou os caça-níqueis espalhados por toda parte com um simpático apelido de "pardal eletrónico", que têm muito mais o papel de rapar o bolso de motoristas destraídos do que organizar o trânsito e evitar acidentes.

Algo banal, na verdade. Há meses atrás me surpreendi ao ver que alguns ônibus estavam iguais. Não estavam mais em suas cores originais, mas em cores sóbrias e com o brasão da prefeitura. Legal ver um ônibus vindo ao longe e não saber se é o seu. A minha teoria de que os caras que gerenciam o transporte público nunca entraram num ônibus só se fortifica com o tempo. Mas como se não bastasse, agora os ônibus decidiram mudar os números!

Como assim? Escrevo esse texto de dentro do 371, que até ontem era 284! Só os que eu decorei, o 260 virou 360, o 241 agora é 341 e o 690, 692, além de muitos outros! Juro que nunca mais falo nada se alguém me apresentar uma razão coerente e digna da minha compreensão para essas mudanças. E se ainda mudassem para números parecidos, mas não, por que facilitar se podem dificultar?

Imagino o Eduardo Paes e Amor com uma lista de linhas de ônibus em mãos, escolhendo seus novos números: "Hum... 269? Coloca aí, 380! 456 agora é 455 e o 455 passa a ser 171, em minha homenagem. 128? Bem, esse sim vai ser o 269. 457? Coloca 007, tipo James Bond..." E o salário ó...!

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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Zodíaco

Eu não acredito na força dos astros, como alguns. Não concebo que uma pessoa nascida em janeiro se dá melhor com outra nascida em março do que com uma terceira nascida em julho, só porque elas nasceram em janeiro, março e julho. Não entra na minha cabeça.

Os signos do zodíaco só foram relevantes na minha vida numa só ocasião: Os Cavaleiros do Zodíaco. Os cavaleiros de ouro me fizeram decorar quais eram os 12 signos porque Seia, Shiryu, Ioga, Shun e Ikki deveriam passar derrotar todos eles afim de salvarem Saori, antes que a flecha de ouro cravada em seu coração... enfim.

No texto do dia 13, onde falei sobre o mito da sexta-feira 13, fui surpreendido pelo comentário de meu amigo Júlio. Ele me disse algo que após apurada pesquisa (no caso, google) vi que de fato se trata de uma verdade. Descobriram que agora não são mais 12 signos e sim 13! É mole? Numa noite estrelada um astrólogo astrônomo olhou na luneta e tomou um susto: “Opa, opa, opa! O que é isso do lado da Ursa Maior, entre As Três Marias e a constelação dos Meteóros de Pégasus!? Como nunca ninguém viu isso!? Signo novo na área, galera! Com certeza trata-se de uma constelação zodíaca! (nossa, eu realmente não entendo nada desse assunto... constelação zodíaca!?)

O nome do novo signo é Serpentário. Estiloso, né? Imagina como deveria ser o cavaleiro de outro de Serpentário... Mas o mais engraçado dessa história não é o novo signo e sim a bagunça que o Serpentário faz no calendário! As datas agora são diferentes, de modo que você tem que saber qual é seu “novo” signo, afinal, ninguém pode viver sem saber qual é seu signo, é tipo não saber seu próprio nome!

Apesar de nunca ter dado muita importância pro zodíaco, confesso que sempre gostei do meu signo, a saber, escorpião - bem, se bem que já perdi a conta das vezes que escutei coisas como “Escorpiano? Iiih, deixa eu tomar cuidado com você...”. Parece que eu sou um mal caráter disfarçado de boa gente, mas tudo bem – sempre achei legal esse signo porque... sei lá, porque sim. Mas o fato é que veio o serpentáio e bagunçou tudo. Agora meu novo signo é Virgem! Não preciso nem falar né? Estou insatisfeitíssimo com tal novidade.

Só deve ser pior pra quem passa a ter como signo o próprio serpentário. Não sei se os jornais e revistas ainda não estão atualizados com tal mudança. Que droga olhar o horóscopo e não ver seu signo, né? “Sorte do dia: nenhuma”.

Agora é diferente:
Capricórnio: De 20 Janeiro a 16 Fevereiro
Aquário: De 16 Fevereiro a 11 Março
Peixes: De 11 Março a 18 Abril
Carneiro: De 18 Abril a 13 Maio
Touro: De 13 Maio a 21 Junho
Gémeos: De 21 Junho a 20 Julho
Caranguejo: De 20 Julho a 10 Agosto
Leão: De 10 Agosto a 16 Setembro
Virgem: De 16 Setembro a 30 Outubro
Balança: De 30 de Outubro a 23 Novembro
Escorpião: De 23 a 29 Novembro
Serpentário: De 29 Novembro a 17 Dezembro
Sagitário: De 17 Dezembro a 20 Janeiro

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terça-feira, 17 de maio de 2011

Economia*

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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-feira 13

Hoje é sexta-feira 13! Hu hu hu hã hã ha ha haaaaa (risada maligna). Só tenho uma coisa a dizer sobre esse dia tão lembrado por todos nós: "!?". Conseguimos esquecer o aniversário da própria mãe, mas não há como passar por uma sexta-feira 13 sem se ligar, mesmo que tal lembrança seja totalmente vazia de explicação.

Papo típico:
- Aí, brow, tá ligado que dia é hoje?
- Sexta.
- Tsc, isso eu sei, né! Mas e a data!?
- Ih, cara! Pode crer! Hoje é sexta-feira 13!
- É po!
- rs...
- É...
- ...
- Então, vai botar a Patrícia na minha fita ou não!?

Comentários sobre tal dia estão fadados a eternos tiros curtos, destinados para motivos pouco ou nada significantes. O Jason bem que tentou criar assunto. Depois de 12 filmes, incluindo seu duelo com Freddy Grugger em Freddy vs. Jason e até uma investida interespacial em Jason no Espaço, ninguém sequer lembra do monstro com máscara de hockey e seu facão, que apesar de nunca ter dado um "pique", sempre foi muito eficiente em perseguir e matar adolescentes fotogênicos e de corpos torneados.

Os mais otários, no entanto, acham que essa parada de sexta-feira 13 começou com o filme trash. Se engana. Bem, para não fugir ao caráter cultural que é muito peculiar a este blog, vou te tirar das trevas da ignorância, ok? A Sexta-feira 13 é um dia enigmático há muito tempo! Mais tempo do que você pensa.

A parada é tão antiga que nem se sabe ao certo onde surgiu primeiro isso. Depois de ter lido algumas teorias, entre elas, a que achei mais legal foi a da deusa nórdica do amor e da beleza, Frigda (frigadag > friday = sexta-feira). Quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo, Frigda foi considerada uma bruxa. Como vingança, toda sexta-feira ela se reunia com outras 11 bruxas e o próprio demônio (se ligou na soma? 13!) para rogar pragas aos humanos. Outra possível origem para esse "terror" está na Santa Ceia, última refeição feita por Jesus antes de ser preso e crucificado. Jesus e seus discípulos somavam 13 pessoas em torno da mesa, naquela reunião que antecedeu duas mortes horríveis - a de Jesus, crucificado; e a de Judas, por suicídio. Vale lembrar que Jesus morreu numa sexta-feira, lembra?

Enfim, é verdade que o número 13 tem lá sua fama. O 12 é considerado um número pleno, que passa completude: 12 meses no ano, 12 tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus ou 12 signos do Zodíaco. Já o 13, é considerado um número irregular, sinal de infortúnio. Em algum momento essa parada topou com a sexta e pronto: hoje ficamos observando essas palhaçadas, a ponto até de eu escrever um post sobre isso, é mole!? Santa idiotice!

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cartão

Um dia alguém teve a brilhante ideia de trocar uma vaca por cinco mudas de café, ou um escravo por três bodes - nascia o escambo (eu acho que o escambo poderia ser algo contemporaneo. Tenho a impressão que economizaríamos muito se ainda fizéssemos isso). Muitos anos depois, inventaram a moeda, que nivelou o valor de todas as coisas. A vaca, a muda de café, o escravo e o bode. Legal né? É a inventividade humana moldando a civilização.

Depois de inventarem o papel moeda, que simplificou muita coisa e até hoje é muito utilizado por todos, inventaram o cheque. Timidamente, uma loucura foi criada nesse momento, ali se decretou o principio do fim. Com o cartão de crédito, tal loucura chegou à sua plenitude e esse fenômeno fora do normal é tratado com banalidade. Que fenômeno é esse? Comprar coisas sem ter o dinheiro que essas coisas custam.

Se o ato de pagar no débito já é uma parada doida - comprar sem um centavo no bolso -, quanto mais no crédito - comprar sem dinheiro no bolso e sem dinheiro no banco! Tem noção? Quem inventou o cartão de crédito com certeza tá queimando no inferno, isso se não foi o próprio tinhoso que o inventou. Saber que em 20 minutos e com um tablete de plástico você pode entrar no shopping e estragar sua vida é algo angustiante.

O mês de abril foi traumático pra mim. Eu paguei uma fatura de cartão que custou simplesmente mais da metade do meu salário, é mole? Chega! Esse negócio de cartão não tem a menor graça! Peguei um ódio dessa parada que você nem acredita! Me dá nervoso só de ver essas propagandas de lojas de eletrodomésticos vendendo produtos em "12 vezes sem juros, e com o primeiro pagamento só depois do natal!". Quer um conselho de alguém inexperiente e que pensando bem não tem moral nenhuma pra falar do assunto? Foge dessas paradas. Se tem a grana, compra. Se não tem, espera.

Por mais que as propagandas de banco sejam lindas e digam que se importam com o projeto da sua vida, a verdade é que eles querem até a sua alma e vão rir enquanto rapam até sua cueca/calcinha , se tu der mole. Putz, propaganda de banco é sacanagem, a do Santander se supera "Junto! Vamos fazer juntos?". Juntos? Beleza, eu quero uma fatia dos lucros então, vai? E a Visa? "Mais pessoas vão com Visa". Vão pra onde? Não vou nem responder, pense o que quiser.

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Alá, alá!


- Alá, alá

- Alá o que, cara?
- Olha ela ali!
- Quem?
- A loira, pô!
- Que loira?
- Aquela ali com o cigarro na mão! Tá vendo?
- Que isso hein... Que mulé é essa mermão!
- Tu viu ela me olhando!?
- Te olhando!? Valeu! pf...
- Ih! Ela me deu mó encaradão cumpadi!
- Tsc, sempre você com esses papo, Léo...
- Ialá! Tá duvidando!? Tá duvidando!?
- Lógico que eu tô duvidando rapá! Olha aquela mulher! Te enxerga ô!
- Ah é, né...
- Hahahahahaha
- Ah é, né... É assim!? Então beleza!
- Ã, fala aí, vai fazer o que?
- O que eu vou fazer!? Vou lá falar com ela ué!
- Hahahahahaha
- Tá rindo!? Tu vai ver só se ela não tava me olhando!
- Beleza pô vai lá!
- Só vou beber mais uma gelada e vou lá! Garçon! Tu vai ver se eu não v...
- Ih cara, olha ali, olha ali!
- O quê, o quê!?
- Olha a garota que chegou pra falar com ela!?
- Que que tem!?
- Meio estranha a garota hein...
- Estranha por que, cara!? É até bom que tu vai lá comigo!
- Não cara, você não tá entendendo..!
- Ih, vai ficar de vergazinnha agora!? Tu vai lá sim! Garçon!
- Ô maluco! Dá uma olhada ali cara! Elas tão conversando estranhão...
- Estran... É mesmo...
- Parece até que elas vão se beij...
- Ih mané! Beijou mesmo!
- Hahahaha caraca! É casal!
- É mole?
- Ainda bem que tu não foi lá, já pensou?
- É mesmo...! Ó, só agora que o garçon me chega, é mole!?
- Pois não?
- Fala chefe... Faz o seguinte? Traz a conta, por favor.
- Sim senhor.
- Ué, não ia pedir mais uma gelada?
- Depois dessa? Não, vou é pra casa. A Patrícia já deve tá preocupada...

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Poder


Você já se perguntou qual poder você teria, se pudesse escolher um? Quem nunca se fez essa pergunta, né? (você não? Então se faça agora pô!). Tem várias opções legais. Voar, já pensou? Entre as nuvens, pássaros e aviões, nunca ficar num engarrafamento. Ficar invisível? Esse também deve ser legal, principalmente para aqueles que têm pré-disposição a fazer estripulias. Superforça é pra quem quer ser superherói, tipo os dos quadrinhos, lutando contra o crime.

Eu também gostaria de usar meus poderes pata o bem. Por isso mesmo é que pensando nessas coisas (inúteis), tive uma ideia! Se eu pudesse escolher um poder pra mim, seria o poder de convencimento instantâneo e absoluto. Se eu falo pra alguém que ela gosta mais de azul do que de amarelo, ela gostará mais de azul pelo resto da vida. Se eu digo pra um pessoa que eu sou legal, para ela, Maneiro né? Agora se liga no meu plano de transformar o mundo.

Primeiro eu iria numa favela onde rola tráfico de drogas, como a Rocinha óu Mangueira e "pediria" para alguém me levar pra falar com o dono do morro. Para ele, "pediria" pra reunir todos os bandidos da favela e "pediria" pra todos eles pra largarem aquela vida pra sempre. De lá mesmo, ligaria pros líderes do crime organizado (que não sei se você sabe, encontram-se presos) e "pediria" pra que eles mandasse parar toda a atividade criminosa que parte deles. Pode acreditar, muita coisa ia parar. Se não por muito tempo, pelo menos pelo tempo suficiente para eu abrir a segunda frente do meu projeto de transformar o planeta:

Brasília, Câmara dos Deputados. Faria um discurso bem "convincente" sobre pureza, dever à pátria e dedicação ao serviço público - transformando um bando de colarinhos brancos safados em verdadeiros representantes do povo, dispostos a usar seus poderes em prol de uma sociedade justa. É mole? Faria discursos semelhantes no Senado Federal, Ministérios da União, Câmaras Estaduais, Foças Armadas, Supremo Tribunal de Justiça, Ministério Público, Polícia Federal, Polícias Militares e Civis, do Rio de Janeiro e de São Paulo pelo menos. Bem, acho que depois disso muita coisa iria mudar. Lógico que ainda teriam várias coisas ruins, mas fazendo esse tour uma vez por ano durante uns 15 anos, na moral, o Brasil ia se transformar numa Copenhagem com 190 milhões de habiltantes! Fora meus projetos internacionais como as guerras no Oriente Médio, a fome na África, e o bloqueio à Cuba, mas sobre essas paradas eu ainda teria que desenvolver estratégias.

E como ninguém é de ferro, pediria uma audiência com o dono da Coca-Cola e pediria um salário de R$1 milhão (só) por mês pra eu fazer... nada. Mais que merecido, né? Fora isso tudo, só por passatempo, tomaria providências para que o Campeonato Brasileiro voltasse a ser decidido no mata-a-mata, o sbt voltasse a passar Chapolin, o pedágio da Linha Amarela fosse R$1,50, a passagem de ônibus custasse R$1,00, a Warner gravasse mais uma temporada de Friends, o Oasis voltasse e o Messi jogasse, lógico, no Mengão.

Mundo, de nada.

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Loja de Móveis

Primeiro, é importante que se diga: a história que vou contar é verídica. Dito isto, lá vou eu.

Na rua Geremário Dantas, na Freguesia, em Jacarepaguá, tem uma loja de móveis na altura da rua Edgard Werneck, perto da pizzaria Papizzo. Bem, você que não está familiarizado com essas referências, não importa. O importante é saber que dentro desta loja acontece algo muito estranho. Sabe aquelas lojas de móveis espelhadas com cômodos montados, que parecem mais uma casa de vidro? Salas legais com tapete, mesa de centro, uma tv e um super sofá; conzinhas com geladeira, fogão, mesa e tal; quartão de casal com uma cama king size, armário... Tudo com uma iluminação indireta, com as cores bem escolhidas, só pra você ter vontade de comprar tudo aquilo. Na verdade, mais do que comprar tudo, quando você vê um cômodo daqueles bem legal, fala sério, não te dá vontade de morar ali!? E se eu te dissesse que dentro dessa loja mora mesmo alguém!? Alguém não, alguns. Acho que uma família completa!

A primeira vez que vi uma movimentação fora do normal foi quando passei em frente a loja fechada e vi um coroa de short, camiseta e chinelos sentado na "cozinha" conversando amigavelmente com uma mulher que parecia ser sua filha, também com roupas de "ficar em casa". Pensei que pudesse ser o dono ou algum cliente vip, sei lá. Na verdade não pensei muito, vi, achei estranho, mas não raciocinei, segui. Só raciocinei mesmo quando passei em frente a mesma loja, dessa vez num domingo de manhã por volta das 8h30 e vi um cara vendo tv "na sala" acompanhado de um moleque de mais ou menos 14 anos, com os pés em cima da mesa de centro. Não era segurança, não era cliente, não era dono. Acredite em mim quando digo: ao olhar praquele sujeito, eu vi um simples e pacato morador. O problema é que o pacato cidadão morava na loja de móveis! Aí eu fiquei encucado! Seria possível uma família morando dentro de uma loja!?

Mas tive que bater o martelo quando passei lá novamente nesse horário (é que eu passo em frente essa loja para ir pra igreja no domingo de manhã) e vi um coroa, talvez o mesmo que conversara com a filha na cozinha na primeira ocasião. O cara, dessa vez, estava FAZENDO A BARBA! Sem camisa, um shortinho e uma toalha no ombro. Eu não acreditei! Quase bati no vidro da loja e perguntei o que diabos aquele cara tava fazendo ali! Só não bati porque, sinceramente, do jeito a la vonté que ele tava ali, ele com certeza ia virar pra mim e dizer: "o que eu tô fazendo aqui? O que te parece!? Eu tô na minha casa! Dá licença? Agora saia daqui antes que eu chame a polícia! Você está invadindo minha privacidade!"

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Tênis Branco


Você pode negar, mas todos nós somos ratinhos de laboratório diante de todo o consumismo implacável que rege nossos dias. Ninguém tem a menor dificuldade de botar na ponta do lápis 10 coisas que gostaria de comprar agora, caso tivesse grana. E ninguém tem dificuldade de admitir que pelo menos 5, dessas 10 coisas, não são realmente necessárias. Eu tenho algumas fraquezas em relação ao consumismo. Uma delas são os tênis brancos. De tempos em tempos eu tenho que comprar um tênis novo. Não tenho muitos pares, mas confesso que não tenho poucos. Aliás, pensando bem, teria pelo menos 1/3 a menos caso não fosse fraco diante dos brancos. Deixe-me explicar.

O que acontece é o seguinte: quando chego em frente uma vitrine de uma loja de calçados, antes que veja 3 ou 4 pares, já vi um tênis branco reluzente que bota o resto no chinelo! Porque o tênis branco, quando novo, não é páreo pra nenhum outro! Sempre acho o branco mais bonito! E é mesmo! Mas tem um problema, o tênis branco fica novo 5 minutos, depois já era. A primeira vez que você sai com seu tênis branquinho cor da neve no pé é sensacional! A segunda, é maneiro. A terceira, legalzinho. A quarta... "Porcaria de tênis que eu comprei! Essa droga já tá toda suja!" É a minha sina. Vejo, me apaixono, compro, uso, sujo, me arrependo, vou comprar outro... Vejo, me apaixono, compro... e assim é. E assim será. E só pra piorar eu tenho outro problema. Dizem que as cores e os estilos das roupas devem acompanhar o tempo, o dia claro e ensolarado, o dia cinza e chuvoso, etc. Eu nunca penso nessa parada! Já perdi a conta de quantas vezes saí com meus tênis branquinhos para andar em lamas, poças e chuvas. E assim minha sina vai se eternizando: "uso, sujo, me arrependo, vou comprar outro..."

Estou pensando em alguma forma de não cair nessa armadilha mais uma vez. Eu tô precisando comprar um tênis mais arrumado, tipo pra usar com uma roupa mais social e tal. Só que eu, sinceramente, estou com medo de sair pra comprar essa parada e me deparar com um tênis branco brilhantemente lindo que fará cair por terra todas as minhas razões para não comprá-lo e me hipnotize como as sereias hipnotizaram Ulisses e seus companheiros na Odisseia (nossa..!). Quem sabe pedir pra alguém comprar pra mim, assim não teria que olhar nos olhos da medusa. Ou então comprar pela net.

Comprar pela internet é uma boa ideia! Mas pra você ver como minha vida é mesmo uma caixinha de histórias interessantes (como a sua também, é só prestar atenção!), há uns 3 meses atrás vi um tênis da Everlasting bem legal na internet e decidi comprá-lo. O modelo tinha as opções branco, azul marinho e preto. Qual era o mais bonito? Lógico, o branco. Qual eu tive vontade de comprar? Exatamente, o branco. Mas eu não sou otário, já sujei muito tênis na vida e já aprendi - comprei então o preto! Uma semana depois chegou na minha casa a encomenda. Quando abri, pra minha surpresa, o bagulho veio errado! Veio o branco! Eu tive que rir quando vi. Lógico que eu não troquei. Lógico que ele já tá todo sujo. Lógico que eu tenho raiva só de pensar nisso.

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Trilha

Nos últimos dias estou vivendo fortes emoções. Bendita hora que tive uma ideia despretenciosa: baixar trilhas sonoras de filmes. Fui pra net e downloadiei músicas que eu lembrava ou que eu tinha impressão de que quando assisti a tal filme, gostei da trilha. Não baixei álbuns completos, mas somente as principais - as músicas-temas dos filmes.

Que ideia tive! Eu tenho o costume de ouvir música no celular, são mais de 4G de música andando no meu bolso. De Foo Fighters a Chico Buarque, de Martinho da Vila a Michael Jackson, de Sade a Bob Marley, tem de tudo! Fora coisas tão boas quanto desconhecidas que um dia virei aqui só pra falar delas. Sou música e viciado em música e sempre é bom ouvi-la.

Mas ultimamente tem sido melhor do que o habitual. A emoção de ouvir trilhas é diferente. Além de viciado em música, sou viciado em filmes e os temas de certos filmes são verdadeiras bombas de empolgação pra mim. Tinha que ver a primeira vez que eu ouvi a música de Infiltrados! Comecei a me sacudir! E a música do Jurassic Park? Quase chorei (eu vi esse filmes pelo menos 40 vezes, sendo 35 antes dos 11 anos.) Estou escutando a trilha de Gladiador todos os dias antes de dormir! E muitas outras que não cansam de me impressionar pela quantidade de emoção que carregam. Definitivamente, os caras que selecionam essas músicas pros filmes só não são melhores que aqueles que as compõe por encomenda. Bato palma.

Minha lista não tá fechada e aceito sugestões. Por enquanto a setlist é essa. Não tive paciência de copiar e colar os links pra download, mas no 4shared tem tudo, é só procurar, caso se interesse.

A Origem
Jurassic Park
Matrix
Crash
Batman Begins
A Ilha do Medo
Coração Valente
Avatar
O Resgate do Soldado Ryan
Gladiador
Infiltrados

Só Sonzêra!

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Lagartixa


Não vou perder tempo explicando o inexplicável, o fato é que tenho medinho de lagartixa. Ela fica lá paralisada na parede e do nada se mexe freneticamente atrás de um mosquito, fora isso, em situações de pergigo se desfaz do rabo. A isso se resume a vida de um animalzinho desses, mas é esse bicho que me dá nos nervos. Se uma lagartixa está no cômodo, eu saio. Eu tenho que vê-la morrendo ou indo embora, caso contrário, não alcanço paz de espírito. Se ela some atrás da estante ou do sofá, já era - angústia total. Antes que você me ache o mais idiota dos homens, quero dizer: eu sei que isso é o calcanhar de Aquiles da minha masculinidade.

Agora, eu não sou resignado com isso não. Sei que é maroto e sempre que vejo tal criatura, me esforço para vencer minhas barreiras psíquicas. Mas o dia em que absolutamente avancei sobre elas e investi toda a energia possível pra estinguir de vez esse medinho ridículo, foi o dia da derrota em que mais me senti subjulgado por ele.

Cheguei na casa do meu pai e não tinha ninguém lá. Subi as escadas e entrei no meu quarto. Larguei a mochila na cama e acendi a luz do quarto. Instantaneamente vi a lagartixa na minha parede, do tamanho de um calango bem alimentado, a uns 50cm do meu armário. Pensei rápido, se ela fosse pra trás do móvel, teria que dormir na sala e isso seria o cúmulo da frouxidão. "É hoje" - pensei, decidido - "É hoje que essa história chega a seu fim".

Corri escada abaixo, peguei uma vassoura e voltei correndo, já me sentindo liberto de meus grilhões interiores. Ao chegar novamente no quarto, ela ainda estava lá, no mesmo lugar, olhando para mim e respirando freneticamente como se prevesse o perigo. Teria que ser um único golpe, se eu errasse o alvo, ela iria para trás do armário e eu poria tudo a perder. Me aproximei vagarosamente já com a arma (vassoura) em punho. Ao alcançar a distância exata, respirei fundo e soltei um Meteóro de Pégasus na pequena monstra! Era o fim do meu medinho? Minha vitória absoluta sobre a besta?

Não. Mal sabia que minha vitória se transformaria na pior derrota. Meu golpe foi tão furioso que a bicha caiu no meu do quarto, partida em duas! Na verdade em três, já que o rabo pulou na sua clássica artimanha de defesa. O rabo mexia loucamente enquanto a parte de cima do corpo, ainda viva, tentava fugir com as duas patas dianteiras e um olhar desesperado. Entre as duas metades, esparramado no chão do meu quarto, havia sangue e, juro, órgãos! Um rico material orgânicao consideravelmente colorido.

Ao ver aquela imagem - putz - fiz a pior careta da minha vida e fui fuzilado pelo sentimento de nojo. Pensei 10 segundos e tomei a decisão mais sábia para aquele momento: saí do quarto e fui ver TV. Fiquei na sala até ter certeza de que voltaria e ela estaria inerte e morta. Assim fiz. Depois de uns 10 minutos, voltei e fiz o serviço do rabecão. Joguei o difunto fora, limpei o chão e tive total clareza: a lagartixa é mais forte que eu.

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

1º de Abril

*Pro Paulinho Salim Maluf, todo dia é 1º de abril

Eu costumo dizer que odeio 1º de abril. Deixando de lado minha mania de opiniões extremadas, posso dizer que não entendo esse dia. Quem inventou esse dia? Deve ter sido algum mentiroso tão 171 que começou a espalhar que nesse dia era permitido mentir! E as pessoas acreditaram! Acreditaram tanto que esse dia é famoso por aqui, tanto que a gente sabe né... mentir no dia 1º de abril é engraçadinho. Interessante, porque nossas mamães, desde que éramos pequetitinhos, nos ensinaram a não mentir. "Mentir é feio", não é? Pois então, a não ser que seja no dia 1º. "No dia 1º de abril pode" - dane-se a moralidade e os bons costumes, mentir nesse dia é legal.

Já pensou se criassem o Dia do Xingamento? Dia 20 de janeiro pode xingar a vontade porque tá liberado. Você aproveita pra trocar uma ideia com seu chefe...! Não precisa temer, não pega nada, hoje é 20 de janeiro! E o professor de física? E a coordenadora do colégio? E seu irmão chato pra cacete? Esvazie seu coração de todo o ódio porque o Dia do Xingamento é pra isso mesmo, pra xingar os outros!

E o dia do Beijo na Boca? Que tal? Esse vai ser divertido, não é mesmo? Tá liberado galera, quando chegar 09 de fevereiro, sai beijando todo mundo porque o Dia do Beijo na Boca chegou! Namorados e namoradas não podem ter crises de ciúmes; as delegacias se preparam pra lidar com todos os 3.456.723 casos de assédio sexual - E o pior: tem que inocentar todos os acusados, afinal, é Dia do Beijo na Boca!

Ih, e o Dia do Roubo? Relaxa, não é nada muito sério não, só um roubozinho, um furtozinho de leve. C&A e Lojas Americanas nem abrem no dia 14 de Maio. Cuidado com sua carteira, celular, suas coisas de valor, porque nesse dia o pessoal brinca de roubar os outros. Mas preste atenção, é brincadeira, se você for roubado, leve na esportiva, afinal, Dia do Roubo é Dia do Roubo! E ninguém pode ser preso por isso. Se não gosta dessas comemorações, fique em casa. Quer dizer, isso se ninguém te "pregar a peça" de roubar sua casa, mas enfim...

E pra fechar o calendário de dias divertidíssimos, 30 de Setembro - Dia do Homicídio! Quer dia mais trilegal que esse!? Os rabecões faturam, o mercado de trabalho fica dinâmico com as novas vagas, os cemitérios ficam uma loucura! O Dia do Homícidio viraria até feriado, com certeza! Seria tanta gente impossibilitada de ir trabalhar (já que estariam ocupadas matando ou morrendo) que o governo logo perceberia que o melhor seria suspender todas as aividades. Legal né!? Também acho! A gente tá dando mole! Dia da Mentira é pouco. Se é pra achar bonito o que é feio, chuta logo o pau dessa barraca e cria o calendário completo!

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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Medinho


Tá relampejando muito nesse momento, enquanto escrevo esse texto. O tempo virou e começou a chover forte. Os clarões no céu são daquele jeito, parece que Deus tá tirando uma foto da Terra, alguns segundos depois chega o barulho do trovão. Aliás, relâmpago é a luz e trovão é o barulho? Acho que sim, de qualquer forma não faz muito sentido ter dois nomes, já que um é o outro e o outro é o um. Eu, particularmente, curto os relâmpagos. Sou um fã dos fenômenos naturais e esse pra mim é um dos mais legais. Quando começa a tempestade de verão eu me sinto bem e sou o primeiro a ir pra varanda ver de perto. Mas tem gente que não gosta de relâmpagos, tem medo. Quer dizer, medo não, medinho - eu explico a diferença.

Medo é um sentimento natural de preservação da vida. Nós temos medo daquilo que nos ameaça. Todo mundo tem medo e não precisa se envergonhar dele. Quem não tem medo da morte, da solidão, medo em momentos de perigo, etc? Muito diferente do medinho. Medinho é o medo irracional que se tem de coisas inofencivas. Os mais clássicos são barata, rato, escuro, altura, velocidade, mar, fantasma, filmes de terror, bicho-papão (mais comum entre as crianças).

Antes de qualquer reflexão sobre o medinho, é preciso dizer algo sobre ele: todos têm os seus. Se alguém diz que não tem nenhum medinho irracional está mentindo ou não se conhece direito. É só uma questão de averiguar melhor, até porque os medinhos podem ser bastante exóticos. Eu mesmo conheço um cara que tem medo de dormir em ônibus e ser degolado - é isso mesmo, o medinho é especificamente para os ônibus, já que nos coletivos costumamos adormecer com o pescoço esticado e a cabeça escorada no banco.

Pra pensarmos sobre a inofencividade dos medinhos, peguemos como exemplo o medinho mais clássico de todos: rato. Diga-me, o que aquele bicho escroto faz para as pessoas terem tanto medo? Os troxas perdem tempo tentando explicar "Eu não tenho medo, tenho nojo..." Que tipo de argumento é esse? Nojo não causa as reações que costumamos ver, como gritos, tremedeiras e até choro. As mulheres, famosas por fugirem das reodores, deviam prestar atenção nos homens quando aparecer uma criaturazinha nojenta dessas. Vão perceber que eles (ou nós...) também tememos os Mickeys.

Os medinhos são incovenientes, mas fazem parte da pessoas e ajudam a construir a identidade delas, assim como características de personalidade. A pior coisa do mundo é alguém querer "libertar" outra pessoas de um medinho. "Vem cá pra beira desse precipício, deixa de ser bobo! Vamos perder esse medo de altura é agora!". A intenção pode até ser boa, mas é uma puta imbecilidade! Tentar "ensinar" alguém a não ter medo é simplesmente idiota. Não é assim que funciona. Os medinhos são irracionais, por isso se tornam tão especiais.

Até porque, não é tão simples acabar com medinhos. Eles estão plantados muito mais fundo do que pensamos. Eu odeio lagartixas e o dia que decidi vencer esse medinho na marra foi o mais traumático de todos, mas essa história eu conto melhor outro dia. A lição de hoje é: respeito os medinhos dos amiguinhos porque você nunca sabe quando uma barata vai entrar no seu sapato antes de você calça-lo. Eca...

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quarta-feira, 30 de março de 2011

Sorriso


Rio, quarta-feira (30/03) - 23:52

Estou passando mal. Quer dizer, estou doente, mas isso não quer dizer que estou mal. Eu explico. Sai do trabalho ontem com dor no corpo, dor de cabeça, febre, dor nos olhos, enfim, todos os sintomas da moda carioca - a dengue. Como tive que buscar meu pai no aeroporto à noite, piorei porque não descansei e fui dormir tarde. Hoje acordei e fui pro hospital ver o que está acontecendo com meu corpitchu. Devido a esse justo motivo, não fui trabalhar [Sorriso nº1]. Depois de tomar um chá de cadeira de 2h e meia, fui finalmente atendido. A suspeita é de dengue mesmo, mas não dá pra bater o martelo porque a doença só pode ser atestada depois de 3 dias, ou seja, a médica mandou eu ficar em casa quarta e quinta e voltar no hospital sexta [Sorriso nº2]

E tem mais! Na sexta, eu vou ao hospital realizar alguns exames. Caso seja dengue, ficarei de molho alguns dias. Mas mesmo se não for, só por ir ao hospital, não trabalharei na sexta também [Sorriso nº3]. Pois bem, ao sair do hospital hoje de manhã, comecei a perceber que ficar doente tinha lá seu lado bom. Cheguei em casa e ela estava vazia. As pessoas da minha familia trabalham e por isso fiquei com a casa só pra mim o dia inteiro [Sorriso nº4]! Não sei se já mencionei o quanto gosto de ficar sozinho, mas isso é assunto pra outro dia. Depois de estudar durante horas (coisa que não fazia há 1 milhão de anos devido à maldita falta de tempo), meu celular tocou - era minha mãe:
- Oi filho, como você tá?
- Oi mão, tô mais ou menos
- Já jantou?
- Ainda não
- Tô chegando pra fazer uma sopinha de ervilha pra você, tá?
- Sorriso nº5
- Que filho?
- Quer dizer, tá bom mãe...

Minutos depois, a sopa já tava cheirando quando ela me gritou da cozinha "filho, trouxe uma coquinha pra você, já tá no congelador" [Sorriso nº6]. Namoral, se eu não tivesse arriado, nao ia rolar nada disso! Antes de dormir, ainda assisti ao fime "O Vencedor". Qnd tinha sido a última vez que eu tinha tido tempo pra assistir um filme assim de bobeira? Nem lembro [Sorriso nº7]! Amanhã eu vou estudar mais, vou cortar o cabelo, ver mais um filme que eu baixei e ainda vai sobrar tempo pra eu ver globosporte e friends, programas que eu não assisto há meses! [Sorriso nº8]

Amanhã vou ligar para a mais amada do universo, minha namorada Camila, pra ela vir aqui em casa pra me fazer cafuné e ficar me dando beijinhos pra eu melhorar mais rápido, afinal, amor cura qualquer coisa né [Sorriso nº9]!? Resumindo: percebi que ficar mal nem é tal mal assim. Até agora já penssei em 9 motivos pra sorrir. Aliás, esqueci de um detalhe: meu estado clínico ainda me rendeu um post no 'tacmg' [Sorriso nº10] Pronto, fechei redondo.

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Gelei

Existem algumas sensações que são raras e inconfundíveis. Reunir a (pouca) coragem para sair do lugar, passar no meio das pessoas e finalmente chegar em frente à menina pra puxar assunto com ela é uma sensação de nervosismo única! Passar pelo portão da escola em direção a rua e pisar na calçada da rua no último dia de aula e dizer pra si mesmo "acabou...", contemplando os dois meses de vagabundagem (também chamada de férias) a sua frente é uma sensação de felicidade única! Ouvir o despertador tocar e em meio a angústia do sono perceber que hoje é sábado e o relógio despertou por engano é uma senação de prazer única!

Tem outra sensação inconfundível que muito provavelmente você conhece. Aquele frio na barriga que dá quando você é pego "com a boca na botija", logo depois de ter feito algo errado. O frio agudo na barriga e a falta de firmeza nas pernas e a voz embargada são instantâneos. Tenho algumas histórias pra contar sobre dar mole e fazer algo errado, e pior, dar mole e ser descoberto! A primeira que vem à cabeça, porém, é a única que vai ao teclado:

Devia ter uns 10 anos. Costumava andar de bicicleta com meu irmão e um amigo nosso no condomímio onde morávamos. Como era o menor, sempre ficava com a pior bicicleta, daquelas que te deixam na mão nos momentos mais importantes, como correr de algum cachorro ou fugir rápido da cena do crime. Enfim, era um sábado à noite e meus pais tinham saído. Eu, meu irmão e nosso amigo estávamos indo pra algum lugar dentro do condomínio, quando a correira da minha bicicleta mais uma vez saiu. Muito irritado, desci do camelo pra recolocar a maldita. Depois de longos 2 minutos consegui e agora era a hora de sair correndo para alcançar meus companheiros egoístas e não-solidarios, que tinham ido embora sem me esperar.

Minha pressa era tanta que quando passei na praça do condomínio, onde alguns carros estacionavam, fui passar em meio a dois veículos e bati no retrovisor de um deles, que veio parar no meu colo. Na hora o já citados frio agudo na barriga e falta de firmeza nas pernas me assaltaram. Tentava pensar rápido, mas não conseguia. Decidi então largar aquele retrovisor no capú do carro e sair dali o mais rápido possível. Só torcia para a a correia daquele ferro velho não saísse. Tudo estava saindo bem com minha fuga quando escutei o famoso grito de repreensão que todo aquele que fez merda tem medo: ÔôÔôÔôÔôÔô...

Gelei. A voz não parecia vir de perto. Mais parecia que vinha do alto, como se o Batman, no galho de alguma daquelas mangueiras, ou o próprio Deus tivesse me chamando a atenção para o que eu estava fazendo! "Não foge não!!". Parei. Procurei. Vi. Era um cara (o dono do carro, descorbiria depois) que estava no terraço de uma casa em frente a praça e viu tudo. O nome disso é flagrante. Disse que eu teria que pagar o prejuízo dele. Eu disse que só tinha 10 anos. Ele disse pra eu chamar meu pai. Eu disse que meu pai tinha saído. Ele, não acreditando, disse que eu teria que ficar ali na praça até meu pai chegar. Assim fiquei. Quer dizer, ficamos, porque em algum momento meus amigos vacilões deram falta de mim. Eu, meu irmão e nosso amigo ficamos "mofando" ali até altas horas.

Depois de muito tempo, meu pai chegou, deus 20 pratas pro cara e a gente foi liberto. A única coisa boa dessas histórias de perrengue é lembrar depois, pois acabam virando aventuras divertidas. Tipo as cicatrizes que a infância nos imprime. Ninguém lembra da dor na hora de falar delas, só fala das estripulias, da coragem, da "arte". Rola um orgulhosinho ao lembrar dos tombos, né? Hoje é engraçado, mas quando eu escutei aquele grito flagrador vindo do céu, eu ali, com a prova do crime (o retrovisor) nas mãos, namoral, não passava nada!

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terça-feira, 22 de março de 2011

Boa Nova


Como disse há cinco textos atrás, não sou muito chegado em carnaval. Por isso viajei para um sitio com mais uma centena de pessoas que também não são fãs da folia exacerbada da semana mais barulhenta do Brasil. fui para o retiro de carnaval da minha igreja. Retiro espiritual, mas que não quer dizer que só fazemos coisas espirituais e ficamos de jejum, orando e louvando ao Senhor. Da piscina ao campo de futebol há muito coisa pra fazer.

Na tarde de segunda-feira, estava eu perto do alambrado do campo, fazendo a "di fora" da pelada, esperando a vez de jogar. De repente, uma movimentação me chamou a atenção. Olhei para trás e vi a uns 5 metros de distância quatro mulheres cochichando alegremente enquanto uma delas segurava uma caixinha de remédios. Como odeio fofoca e acho horrível quem se mete na vida dos outros, decidi aguçar minha audição a fim de escutar o que elas estavam falando. Quase fechando meus olhos de tanto esforço, ouvi embassadamente: "Aqui, menina! Dois pontos quer dizer que você está grávida!"

Das quatro mulheres, a única que poderia estar grávida era a Mimi (é o apelido dela mesmo...). Engraçado que o marido dela estava fora do campo de visão delas, mas estava dentro do meu, já que estava no salão de jogos do outro lado do campo de futebol. O Levi, alheio a tudo, estava jogando ping-pong distraidamente. Não me aguentei! Mesmo revelando que estava prestando atenção numa conversa que não me dizia respeito, gritei: "Mentira que vocês estão descobrindo isso agora!" Elas viraram pra mim e quase juntas disseram que sim, aquele estava sendo o momento inesquecível em que ela descobria a gravidez do seu primeiro filho!

Como numa Eureka, pensei alto: "Putz! O Levi nem sabe! Ele tá ali!" - disse, apontando pro futuro pai! Por um momento tive vontade de sair correndo como o vento, passar pelo meio do jogo, empurrar o cara e dizer com os olhos esbugalhados e fixos nos olhos dele: "Cara, você vai ter um filho!". Mas isso foi só um pensamento. Lógico que quem tem que dar a notícia é a mulher. Pelo menos foi o que eu pensava até a Michele, em meios aos risos, me dizer: "Vai lá falar pra ele..."

Opa, peraí! "Eu!?" - gritei. Ao ver que ela estava falando sério, não perdi tempo. "Tá!" Saí correndo como o vento, passei pelo meio do jogo, empurrei o cara e disse com os olhos esbugalhados e fixos nos olhos dele: "Cara, você vai ter um filho!" A reação dele foi obviamente agitada e desnorteada, como todo homem que descobre que vai entrar numa longa temporada de feilicidades mil e contas a pagar mil também.

Mas depois desse episódio, fiquei pensando. Eu dei a notícia! Euzinho! Seria exagero dizer que para sempre farei parte da história do casal? Afinal, eu nunca vi um terceiro dizer pro cara que a mulher dele tá grávida, é tipo alguém dizer pra mulher que o cara quer casar com ela! Imagina, o homem se ajoelha, olha firme nos olhos da mulher, hesita por uns segundos e diz: "Alessandra, quer casar... com o André?".

O que posso dizer é que foi muito legal. Que boa nova! Nunca dei uma boa tão nova, nem uma nova tão boa!

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Cubano


Fui no aniversário de uma amiga no último sábado. Não a vejo há algum tempo, mas fiz questão de ir, porque de fato somos amigos. Tinha outro aniversário pra ir no mesmo dia, mas dei um jeito de ir lá, mesmo que tarde, porque de fato somos amigos. Não conhecia ninguém que estaria lá porque nossos amigos em comum não foram chamados pra a tal festa, mas fiz questão de ir, porque de fato somos amigos.

E assim foi. Cheguei acompanhado da minha namorada e de um amigo. Não era muito bem uma festa, estava mais para um happy hour. Devia ter umas 15 pessoas lá, comendo pizzas feitas na hora, num forno a lenha perto de uma piscina. O lugar e as pessoas eram bem legais, uma delas, inclusive, me chamou a atenção. Assim que chegamos, um cara, com uns 25 anos, de rabo de cavalo (é, rabo de cavalo) veio, simpáticamente, se apresentar.
- Fala aí gente! Tudo bem com vocês? - nos abordou.
- Tudo ótimo! - respondi.
- Seu nome é..!?
- Meu nome é Jônatas, e o seu?
- Pode chamar de cubano (cubano? Algo me dizia que meu blog ganharia um texto naquela noite).

Ficamos, naturalmente, um pouco deslocados. Eu, minha namorada e meu amigo Felipe achamos nosso lugar num sofá e ali ficamos a papear. De vez em quando conversávamos com pessoas desconhecidas, mas só aquele papo furado que pessoas desconhecidas batem, sabe? Mas como somos muito bons de papo, estava saindo tudo bem. Até que o cubano se aproximou de nós, mas olhou fixamente só pra mim.
- Aí, Anderson - disse se aproximando, claramente querendo falar ao meu ouvido.
- Anderson? - respondi, surpreso.
- Qual teu nome mesmo?
- Jônatas.
- Ah é! É que eu te confundi com o outro cara - apontou para meu amigo, Felipe.
- Ah tá... Mas fala aí!
- É o seguinte...
- Uhn...
- Tu fuma um back?
(Eita)
- Pô, Cubano, não fumo não, cara...
- Não? Tranquilo! - falou num sobressalto, levantando as mãos como se estivesse retirando o que disse, tentando não me contranger - Se você quiser, estamos aí...

Não entendi. Eu estava lá, com minha namorada e meu amigo e ele saiu lá do lugar onde ele estava (Havana?) só pra perguntar pra mim, e somente pra mim, se eu era da turma do D2? Por que não meus acompanhantes? Eu lá tenho cara de maconheiro? Fiquei pensando sobre esse momento bizarro que tinha acabado de viver, quando saiu uma pizzazinha de calabresa acebolada. Nessa hora minha reflexão se esvaziou e fui comer. Vida que segue.

Uns 30 minutos depois, após comer mais uns 37 pedaços de pizza, estava na beira da piscina. Meu amigo Cubano estava no comando do forno a lenha. De repente, escuto:
- Anderson!
- Só pode ser eu - pensei
- Anderson!
- Meu nome não é Anderson cara!
- Putz, foi mal... É Djonatá né?
- Jônatas...
- Então, Djonatãn, escolhe um sabor de pizza aí, pra eu fazer! Temos todos os sabores!
- Que isso cara, já to satisfeito.
- Ah, fala sério! Escolhe aí! Qualquer sabor!
- Pô, já comi pra caramba...
- Escolhe logo John Natan! É só pedir!
- Beleza. Então... sei lá... Chocolate com morango.
- Pô, esse não tem.
- Banana com canela..?
- Pô, também não.
- ...
É difícil não rir nessas horas. O cara era muito figura.

Na hora de me despedir, já fui falar com ele escaldado. "Valeu, cubano! Tô indo nessa..." falei pra ele, como se fôssemos amigos. Juro que nesse momento ele olhou pra mim e ia me chamar de Anderson, mas pensou duas vezes e se absteve de tentar lembrar meu nome "Valeu cara, prazer conhecer vocês!". Ele precisa parar com isso. Queimar neurônios, a longo prazo, se torna um problema sério. Se Fidel conhecesse esse cubano, acho que não ia gostar: "Nosotros no fumamos cigarillos del capeta, nosotros fumamos charuto, cabrón!"

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quarta-feira, 16 de março de 2011

Mário

[Esse texto também foi publicado no blog Crônicas Dumas Viagens, no dia 16/03]

Se eu conheço? Lógico que conheço o Mário! Desde pequeno! Meu pai era amigo dele antes de eu nascer. Meu avô diz que o viu criança. Coroa gente fina pra caramba. Pra falar a verdade, nem tão coroa assim. O Mário tá numa idade boa, com uns 50 e blau, quase 60 - vendendo saúde. Esses dias até ouvi dizer que ele tá fora de circulação por uns tempos. É, viajou pra abastecer de ar fresco auqueles pulmões.

Benditos pulmões! Mais parecem duas bombas de ar, isso sim. Mário fala alto, sempre falou. Gesticula, ocupa espaço, como se não bastasse seu tamanho. Ô homem grande! Lá na rua, o chamávamos de maiordomundo. Ele gostava, se divertia com o apelido.

Puxa, saudade dele… Já faz um tempo que não o vejo. Tô torcendo pra ele voltar logo pra gente bater papo, falar sobre futebol. Ih, quando a gente para pra falar de futebol, o tempo voa. A grande paixão do Mário é a redonda. Já vimos muito jogo do Flamengo juntos.

Engraçado é que ele não diz pra qual time torce, fala que torce pra todos. Já ouvi dizer que é tricolor. Meu primo jura que Mário é botafoguense, mas eu tenho pra mim que é flamenguista. Não é possível, ninguém grita daquele jeito que nem a gente gritou naquele Flamengo e Cruzeiro de 2003 sem ser urubu.

Enfim, maiordomundo é o cara. Amigo de geral, conhece gente da cidade toda! Ele brinca que tem amigos ao redor do mundo inteiro e vou te falar: eu nem duvido. Com aquela simpatia, pode ser mesmo. Na última vez que conversamos, ele me disse que em 2014 vai organizar uma festa aí e vai trazer gente de todas as partes do planeta. Essa festa eu não perco.

Mário Filho, desse cara eu sou fã.

[Novos textos sempre às terças e sextas]
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