segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canção Esquecida

Era um dia como o de hoje, cinza. O vento soprava agressivamente na varanda e a temperatura namorava deliciosamente os 20 graus. A inspiração me levou ao quarto, ao violão e ao caderno. 20 graus? Em 20 minutos nasceu uma música sobre o cinza. Sobre o conforto das cobertas, sobre a calma e o silêncio do nublado, um dia sem sol, sem suor. Era um tipo mpb, um pé na bossa, com um refrão legal, fácil de cantar. Juro que era uma boa música.

Pois eu só posso zoar. Porque eu esqueci a música. Esqueci até que ela existia. Um dia, meses depois, lembrei que a tinha feito. Corri pro violão e tentei tocá-la, nada saiu. Os resquícios que ficaram na mente não foram suficientes para recriá-la. Triste, né? Mas vida de compositor é assim mesmo. Escreveu, não leu o pau comeu. Ou compôs e não escreveu, esqueceu.

Tô pensando em aproveitar esse dia cinza de hoje e fazer outra música. Não sei, acho que no fundo eu tenho a esperança daquela música renascer como a fênix de algum lugar inóspito da minha memória. Quem sabe eu ainda cante a canção esquecida.

[Textos sempre às terças e sextas]

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Correria


Não diria que a noite estava fria, apenas com uma "friaquinha". Saí de casa com um casaco fino, calça jeans e tênis. Num bolso do casaco, a chave de casa. No outro bolso do casaco, minha carteira. Num bolso da calça, meu celular de onde saíam os fones até meus ouvidos. Na mão, apenas um traquinas de chocolate. Por volta das 18h30, não tive a fome suficiente pra jantar antes de sair, mas sabia que logo a sentiria. Assim saí, despretenciosamente, descendo a ladeira costumeira, de bobeira, daquela quinta-feira. Toda a tranquilidade, porém, fugiu a galope quando vi meu ônibus se direcionando ao ponto, no momento em que pelo menos 50 metros me distanciava dele. O único ônibus que me serve. Aquele que demorará uns 15 a 20 minutos pra passar de novo. Não pensei 2 vezes. Corri.

Corri segurando os bolsos. Correr de calça jeans é meio tenso, mas corri confiante porque o ônibus pararia no ponto e eu teria tempo de alcanç... Êta ferro, ninguém fez sinal, ninguém quis descer. Lá se foi meu ônibus. Na hora percebi que o sinal situado a uns 50 metros depois do ponto estava fechado. Nem diminui o ritmo, continuei no estilo Usain Bolt e meti o pé no acelerador. Nesse exato momento, dois desastres simultâneos: minha chave cai do meu bolso e o sinal abre. Uns raio de desânimo me faz parar. Na verdade eu só percebi que a chave caiu porque o pessoal do ponto de ônibus (por onde o ônibus passara há 10 segundos e agora quem passava era eu) gritou!

Eu vinha correndo, de modo que quando parei a chave já estava a uns 10 metros atrás de mim. Um senhorzinho então me surpreendeu. Possivelmente, tinha me visto perder o ônibus e entendido minha situação. Não sei. Só sei que ele, percebendo estar entre eu e a minha chave, correu até elas, pegou rapidamente no chão e correu até a mim pra que eu continuasse minha missão. Confesso que eu já tinha desistido, mas o coroinha me constrangeu. Dane-se que o sinal abriu, agora o ônibus estava parado no ponto seguinte, aquele do final da rua, que tem até um sinal e um pequeno congestionamento. Era tudo ou nada! Corre Forrest!

Corri e corri. Talvez nesse momento eu tenha sentido o primeiro traço de cansaço. Mas ele estava tão perto. Já me gabava pelo prêmio do esforço. Eu iria conseguir. O sinal abriu, eu apertei o ritmo. 30 metros, 20 metros, 15, 10... Lá se vai o maldito de novo. Chegou ao cruzament, virou à direita e foi-se embora. Novamente cheguei ao ponto atrasado. 5 segundos de atraso. Mãos no joelho, o coração batendo forte, o traquinas completamente remexido em algum lugar entre a boca e o estômago, a fronte transparecendo meu desânimo. Eu tinha corrido até ali seguramente uns 300 metros - em marcha forte, de calça jeans e casaco! E com um pacote de biscoito na mão!

Eis o apse da minha aventura! Dali o ônibus pegaria uma rua que tinha 2 pontos e um sinal. Ao sair desta rua, atravessaria a avenida e pararia no shopping, onde várias pessoas descem e sobem. De onde eu estava, eu poderia chegar ao cruzamento e ao invés de virar a direita como o ônibus, poderia ir em frente e ir correndo até o shopping, na esperança de chegar lá antes dele. Putz, mas essa opção me daria correr mais uns 400 metros! Não é hora de pensar muito! Partiu Usain!

Corri. Assim que passei do cruzamento, minhas pernas já começaram a reclamar. A rua tinha um pequeno declive e quando cheguei nessa parte não aguentei, diminui o ritmo. Agora parecia que estava batendo um cooping. Quem olhasse, não entenderia nada. Estava correndo sem pressa como num momento de lazer, mas com uma roupa como se estivesse indo pro shopping. Corri e não parei. Já estava bufando e o trakinas já estava indeciso se descia ou voltava à boca. Ao chegar ao final da rua já praticamente andando, não acreditei quando vi o ônibus cruzando a avenida e parando em frente ao shopping. Minha saga estava chegando ao fim. Atravesse a rua andando e ainda fiquei, ironicamente, uns bons 30 segundos na porta até conseguir subir no coletivo.

Ao passar pela roleta, tinha certeza de que vomitaria. A vista estava escura, estava tremendo, suando frio. Sentei, tirei o casaco e abri a janela. Fechei os olhos e fiquei respirando fundo até a sensação ruim passar. Tudo deu certo. 30 minutos depois já tinha chegado ao meu destino. Mas na hora de levantar e puxar a cigarra, preferi deixar o trakinas lá no banco. Só de olhar pra ele, passava mal.

[Textos novos sempre às terças e sextas]

terça-feira, 14 de junho de 2011

Cidade natal

Dizem que o Papai Noel vive no Polo Norte, de onde sai todo dia 24 de dezembro em seu trenó voador com renas mutantes para entregar presentes para crianças de todo o mundo (ou seriam só as crianças norte-americanas?). Ele invade as casas pelas chaminés e coloca os presentes perto das árvores de Natal. Na moral, toda lenda tem sua carga lúdica, mas essa história é a mais imbecil que existe!

Historinhas da caroxinha à parte, eis que a verdade vem à tona, e a verdade é uma somente, senão a que o Papai Noel não vive no Polo Norte. Se um dia morou lá eu não sei, mas o país onde reside o bom velhinho é o país do futuro, candidato a principal potência econômica do sécXXI. China, lá vive o barbudo mais amado do planeta - mais precisamente na cidade de Yiwu.

Explico: essa cidade chinesa é a mais importante no christmas business no mundo! Estima-se que dela saem - pasmem - 90% dos artigos natalinos consumidos por todo o globo terrestre! Bolinhas, pinheiros, papais noéis, pombas brancas, grinaldas, botinhas listradas, renas, mamães noéis, gorrinhos vermelhos, pisca-pisca... Tudo isso! Ops, os presépios também (quase esqueci deles...)! Tudo vem de uma só cidade! Perceba, não estou falando que 90% dos enfeites de natal vêm da China (o que já seria absurdo), estou falando da cidade de Yiwu! É ou não é a casa do Noel!?

Mais de 200 mil pessoas vão diariamente a Yiwu atrás das bugingangas. Em 2010 a cidade faturou cerca de US$3,239 bilhões! Pelo jeito nessa cidade só tem enfeite de natal! Presente de aniversário por lá: enfeite de natal. Dia dos namorados: enfeite de natal. Dia das mães: enfeite de natal. Chá de bebê: enfeite de natal.

Acho que em Yiwu se come rabanada o ano inteiro e o espírito natalino já faz parte do dia-a-dia das pessoas nos 365 dias do ano. É tanta gentileza e boa vontade que todo mundo já tá de saco cheio! Neva o ano inteiro também e todo fim de semana algum ator se veste com roupas marotas vermelhas e desce de helicóptero no estacionamento de algum shopping pra distribuir presentes para criancinhas ingênuas. Ah! Nessas circunstâncias, os atores de Yiwu usam óculos escuros. Sabe como é né, não pode dar pinta. Bom velhinho chinês não rola. Grande hipocrisia, é verdade. Afinal, Yiwu é a casa do Noel.

[Textos novos sempre às terças e sextas]

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Churreia


Legal pensar que o nosso corpo é uma máquina perfeitamente desenvolvida para as diversas situações pelas quais podemos passar (ou podíamos passar). Por exemplo, os pelos. Eles não estão espalhados pelo nosso corpo a tôa. Eles nos protegem do frio, ora! Por isso os negros têm menos e os de origem nórdica-europeia têm mais. Aqueles vieram da África, de lugares quentes, esses vieram do norte do globo, onde o bicho pega com o frio. E também por causa dessa relação com a temperatura, temos mais pelos na cabeça, um pouco menos nos braços e nas pernas e menos no troncos (fora os peludões né...), já que são as partes do corpo que recebem mais sol e tal.

As unhas protegem as extremidades de nossos dedos contra choques e a sujeira. Além de servirem de garras, que na verdade deixaram de nos ser úteis depois que desenvolvemos facas, tesouras, agulha, e outros objetos de serventia específica. Temos dois olhos, dois braços, duas orelhas, duas pernas. Por mais que nossos corpos sejam, teoricamente, simétricos, o fato é que dessa forma temos órgãos reservas pro caso de algum acidente ou deficiência.

enfim, muitas coisas no corpo têm suas aplicabilidades antropológicas. Mas existe uma parte do nosso corpo que não me diz nada. Só está ali pra ser despercebida e, especificamente no meu caso, ser odiada. Falo da churreia.

Churreia é a parte dos dedos entre as unhas e as costas da mão. O que me irrita não é a churreia em si, já que se não fosse por elas nossas unhas seriam grudadas na mão (que bizarro, imagine uma mão sem dedos) mas o fato das churreias serem cabeludas! Putz, por que? Ta aí, primeira pergunta a ser feita ao Senhor Deus, soberano sobre todas as coisas:
- Bem vindo meu filho Jôn...
- É, é, valeu! Olha só, qual é do pelo na churreia!?

Algumas churreias são mais cabeludas que outras. Umas tem cabelos encaracolados, outras já tem cabelos lisos, escorridos. Tem gente que tem churreia cabeluda até no pé, na verdade é até normal. Na minha opinião, as churreias demasiadamente cabeludas nos pés são as mais feias. Enfim, nesse pensamento antropológico, meio darwinista, eu tentei sacar a funcionalidade da churreia cabeluda, mas nada me ocorre. No final das contas, acho que elas só existem pra compor as mãos e pés. Não têm função, só ocupação.

[Textos novos, sempre às terças e sextas]
 
◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates. Blog Templates created by Web Hosting