terça-feira, 19 de julho de 2011

Charlie


Tv é lgal, né? Há quem goste mais e quem goste menos, mas todo mundo gosta. Alguns arrogantemente dizem "eu quase não assisto tv". Mas "quase" não assistir tv já consiste em assistir, por baixo, 1 ou 2h por dia! É um vício nacional. Aliás, mais do que nacional, a tv é um vício mundial! Quando o demônio de um olho só decide nos distrair, todo o resto perde a importância, não é verdade? Somos capazes de ficar 30 minutos do lado de 2 ou 3 pessoas sem que falemos nada. Aliás, sem que falemos e sem que pensemos nada, incapazes de refletirmos sobre qualquer coisa que não seja o que estamos assistindo.

Pensando bem, muitas vezes não refletimos nem sobre o que estamos assistindo.

Two and a Half Men é a série de maior sucesso na América Latina. Até antes de Big Bang Theory "explodir", era a mais famosa dos EUA também. Depois de Friends, que terminou em 2004, as histórias de Charlie, Alan e Jake Harper são as que mais divertem o Brasil no segmento dos sitcoms (seriados de comédia, geralmente com plateia e 30 minutos de duração). Realmente, eles mandam muito bem e é impossível não rir com o programa.

O que eu falava sobre não refletirmos sobre o que assistirmos, porém, é muito pertinente quando olhamos para Two and a Half Men. Conseguimos achar o protagonista da série, Charlie Haper, o máximo, mas não somos capazes de pensar que o cara representa tudo o que não deveríamos admirar ou mesmo admitir. O personagem interpretado pelo ator Charles Sheen coleciona relacionamentos artificiais, trata o irmão como um cachorro vira-lata, não tem amigos de qualquer espécie, oferece um péssimo exemplo ao sobrinho, trata a mãe como um inimigo.

Tudo isso parece até forçação minha, eu sei. Não tem como ser diferente, já que a série muito bem escrita é extremamente competente em projetar tudo isso de uma forma leve e "engraçadinha". O mais interessante pra mim é a relação do cara com a bebida. O programa simplesmente propaga uma apologia ao hard drinking way of life descaradamente! Por capítulo, os personagens aparecem com uma cerveja ou com um copo de vodka na mão de 3 à 5 vezes! E essa apologia é exaustivamente verbalizada pelo Charlie, que não se cansa de brincar e defender a bebida como um simples instrumento de felicidade.

O nome do personagem não é "Charlie" a toa. O pianista autor de jingles e morador de Malibu é claramente um sátira de si mesmo, um espelho do ator que o interpreta. Charlie Sheen é conhecido por seu estilo de vida irresponsável. Coleciona escândalos com drogas, prostitutas e até violência doméstica. Aliás, a Warner demitiu Sheen há pouco tempo atrás depois do ator ter dado uma entrevista à uma rádio americana - aparentemente bêbado - onde xingava o elenco e a produção da série.

Pelo visto, a bebida só faz bem na historinha do Two and a Half Men. Na real, o cara ta se estragando. Continua sendo o ator mais bem pago da tv americana e parece que vai ser o protagonista de uma nova série dentre de pouco tempo. Mas sabe como é né, não seria diferente!, o que o show business mais quer do que uma estrela louca que de vez em quando dá uns vexames?

Continuo assistindo a Two and a Half Men. Sou fã. Mas há uma diferença muito grande quando se assiste o programa sob a perspectiva certa. Infelizmente, acho que muita gente, inclusive e especialmente a molecada, que não assiste dessa forma. Todo mundo quer ser o Charlie Harper, mas ninguém tá ligado que a realidade aponta para o Charlie Sheen, que como mostra o vídeo abaixo, é um cara deprimente... Na realidade, a piada não tem graça nenhuma.

http://www.youtube.com/watch?v=aGqt4AoKbGk
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Porteiro


Descemos pro play e começamos a jogar bola. Éramos só três meninos e por isso não tinha muita graça. Eu, meu irmão e mais um vizinho. Os nossos outros dois amigos que sempre jogavam com a gente não estavam dessa vez, por isso não tínhamos outra escolha a não ser ficar batendo bola sem objetivo. Acho que era sábado. Sábado de manhã.

De repente a bola foi mal tocada por um de nós, e mal dominada por outro. Escapou. Se perdeu pra além do lugar onde estávamos. Antes, porém, que um de nós fosse buscar, ela voltou. Não por si só, mas nos pés de alguém, o porteiro.

Durante muito tempo o porteiro do Ed. Leonardo Nogueira foi o Seu Bené, um senhor manco que ficava na dele na maior parte do tempo, a não ser quando a gente corria no lugar que não podia - aí ele decidia falar: dava esporro e reclamava da vida como que dizendo que a gente não tinha ideia de como a vida dele era difícil. Como se crianças de 10 anos pudessem entender isso.

Antes do Seu Bené teve outros porteiros, mas não lembro deles, com a exceção desse que tocou a bola de volta. Ele trabalhou lá no prédio durante pouco tempo. Era um cara negro, muito escuro, forte, que usava sapatos pretos muito bem lustrados. Não lembro do rosto dele. Na verdade, a única lembrança que tenho dele é desse dia, do futebol.

Ele não só trouxe a bola de volta, como jogou com a gente. Deixou o serviço pra lá e decidiu brincar com aquelas três crianças. E ele jogava muita bola! Lógico que minha memória infantil tende a fantasiar um pouco, mas não importa, é o que eu lembro. O porteiro sem nome fazia embaixadinhas com facilidade, tocava, dominava, driblava a gente. Nós três tentávamos tirar a bola dele e mesmo em 3 contra 1 não conseguíamos.

No princípio, tentou jogar discretamente, sem fazer muitos movimentos, como que só "colaborando" pra nossa diversão. Mas aos poucos foi se soltando e depois de um tempo já estava todo suado. De repente, disse qualquer coisa sobre voltar ao trabalho e se foi. Cansados, sentamos no chão e ficamos por ali, sendo crianças numa manhã de sábado.

Depois daquele dia, ele sumiu. Acho que foi demitido. Quem sabe virou jogador profissional nas Oropa. Ou foi lavar o chão de outro prédio. Não sei o nome dele. Posso chamá-lo de Edson. É... Edson. A negritude e a habilidade do rei Pelé.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Intrometida


Muita gente não para pra perceber o poder que Hollywood tem sobre o consciente coletivo. A coerência que os filmes obedecem através de regras muito sutis vão moldando nossas visões sobre vários aspectos da vida. Coisas como "a felicidade suprema da vida está em um relacionamento amoroso", "no final o bem ganha", "toda pessoa, no fundo, só procura um grande amor", "o crime não compensa" são absolutos hollywoodianos que vão sedimentando nossas opiniões. Não estou dizendo que eles inventaram essas coisas, só estou destacando a considerável participação deles em corroborá-las. Ah! Vale destacar que essas afirmações não são, em sua totalidade, verdadeiras, né? Mas não falarei sobre isso.

E não é papo de teoria da conspiração não. Aliás, eu sou contra delas. Parece que tudo que a Coca-Cola, o MacDonalds e a Rede Globo fizerem tem uma contextualização escondida e maligna. Mas enfim, ontem assisti Transformers 3 e mais uma vez, em dado momento do filme, vi a bandeira americana ao fundo. Despretenciosa, mas presente. É qui jogo no ar: ela sempre está presente. Não sei se você já parou pra pensar nisso, mas ela sempre está lá. Mais cedo ou mais tarde (ás vezes mais cedo e mais tarde) ela aparece.

Não importa o filme, o ator, a época, a civilização, o planeta! Ela está presente sempre! Se procurar, acha. Regra absoluta de Hollywood: Todo filme tem que mostrar pelo menos uma vez a bandeira com listras vermelhas e brancas e 50 estrelinhas na parte noroeste do pano. A gente nem percebe mais. Ela passa diante dos nossos olhos e nem a notamos! Saímos do cinema e vamos comer no McDonalds, comer no Pizza Hut ou comprar uma roupa da nike. Agora, você acha que essa mensagem subliminar da visualização massiva da bandeira não colabora para uma americanização despercebida? Não é tudo um plano de dominação intelectual? Não acha? Hein? Hein? É... eu também não. Não me lanço a construir teorias idiotas, só quero destacar o quanto a tal bandeira está irritantemente presente nos filmes!

Transformes conta a história de robores que defendem a terra contra outros robores. Nessa guerra titânica entre monstros metálicos de 20 metros (impossível não lembrar do Megazord), o jovem e esmirrado Sam tem sempre um papel fundamental, salvando o planeta Terra. A velha síndrome de Jack Bauer - salvar o planeta. E no meio dessa trama, de algum modo aparece a bandeira dos EUA. Nada a ver, né!? Talvez você não ache nem tão surpreendente a minha fala, mas isso é só uma prova de que você já se acostumou com a aparição dela, porque uma guerra entre robores alienígenas não tem nada a ver com a bandeira dos Estados Unidos!

Missão Impossível, O Mentiroso, Duro de Matar, Dia de Treinamento, Os Infiltrados, Senhor das Armas, Matrix, A Procura da Felicidade, Batman, O Dia Depois de Amanhã! Ela está sempre lá. Pendurada na parede, na varanda da casa, estampada na blusa de alguém, tatuada no braço do soldado, um adesivo no carro, sei lá! Se você for num mundo devastado por um vírus em Eu Sou a Lenda, lá está ela! Se você for pro futuro em Eu, Robô, lá está ela! Se for no passado em Resgate do Soldado Ryan lá está (ok, essa foi óbvia. Segunda Guerra tem que ter mesmo). A apelação é tanta que se você for no Império Romano em Gladiador, você acha a bandeira! Sério! Até em Star Wars, na guerra entre os Jedis e o Darth Vader, vai ter uma bandeira dos Estados Unidos! Se assistir com atenção Rei Leão tu acha uma bandeira! É só procurar!

Está lançado o desafio. Ligue a antena e você verá a regra absoluta de Hollywood. E tenho dito.

[Textos sempre às terças e sextas]
 
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