segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Delivery?

- Evandro's. Boa noite
- Boa noite, eu quero pedir uma pizza...
- Qual o sabor?
- Quero uma gigante, metade calabresa, metade portuguesa. Mas antes eu queria saber se vocês aceitam Sodexo VR
- Olha rapaz, até mês passado eu aceitava, mas o Sodexo cobra uma taxa muito grande, entendeu? Aí agora a gente não tá aceitando mais não.
- Entendi...
- Pra falar a verdade, eu tô até estudando a hipótese de voltar a aceitar porque se por um lado a gente economiza na taxa, por outro, a gente perde clientela, né? Hoje mesmo, você já é a segunda pessoa que liga perguntando se nós aceitamos.
- ahan...
- Mas é difícil. Manter um estabelecimento comercial é difícil; restaurante então, é mais complicado ainda! Você não tem idéia! E não é só Sodexo não! Tem RedeShop, Visa, Master Card, Visa Eletron, VR, isso tudo é gasto, sabe?
- Sim, mas...
- A gente deve voltar a aceitar em breve, fique tranquilo. Da próxima vez que você ligar, a gente já deve estar aceitando de novo. No fundo, eu sei que não dá pra cortar esse serviço porque é muita gente que usa Sodexo.
- Então eu...
- Só dá raiva de ter que pagar uma taxa tão alta, sabe? Os caras aumentam e não te dão nem satisfação! Mas sabe o que é isso? Eles não tem nada a perder, quem perde é sempre o estabelecimento. Aí eu me revolto e decido não pagar, mas sempre acabo voltando atrás.
- ...
- Bom era o tempo em que não tinha essas coisas. As pessoas vinham e compravam com dinheiro e pronto. Bom era aquele tempo! Não tinha nada disso de cartão de conveniência, cartão de crédito, nada! Só tinha o dinheiro. O cliente pagava ali na hora!, ou comprava fiado né..? Eu era enrolado às vezes com isso, entendeu? Mas nem se compara à grana que eu perco hoje em dia com essas taxas absurdas!
- Tá bom, boa noi...
- É o que eu sempre falo pras minhas filhas "esse mundo de tecnologia, de convêniencia, de velocidade aí, parece ser muito bom, mas as coisas simples da vida estão cada vez mais raras"! Hoje em dia o cliente te trata como se você fosse um empregado! Antigamente não, antigamente meus clientes chegavam e me chamavam pelo nome, perguntavam como estava minha esposa (que Deus a tenha)! Hoje não... Eles nem sabem quem eu sou! Só querem ser servidos rápido e ir pra casa. Isso me deixa triste, sabia?
- Valeu amigo! Eu preciso...
- Às vezes eu tenho vontade de largar o restaurante e arrumar outra coisa pra fazer. Passar o ponto, sabe? É muita apurrinhação, amigo! Você acha que cachaça é água? Ram, não é fácil não! E ainda tem essas taxas...
- [tu-tu-tu-tu...]
- Alô? Alô...

Eu aumento, mas não invento. No final das contas, jantei miojo.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Stand Up


Stand up comedy é um tipo de comédia típico da cultura americana, onde o comediante não se caracteriza, nem incorpora personagem algum, mas diverte a platéia através de um "desabafo" sobre percepções suas em relação ao cotidiano. Esse tipo de comédia já faz sucesso na América do Norte há muito tempo, mas parece ter encontrado público cativo aqui no Brasil nos últimos anos. Alguns dizem que vai passar, porque é modinha. Eu já acho que não vai passar, mas é modinha mesmo. Pra mim, o stand up comedy (ou, "comédia em pé") se transformou num tipo de comunicação que o público brasileiro aprendeu a entender e isso não se perde nunca mais, mas uma coisa não há como negar: tá muito modinha essa parada! Todo mundo faz stand up!

Isso é preocupante, sabia? Outro dia recebi um RT do Serginho Malandro convidando pro novo show dele de stand up! Putz! glu-glu ié-ié!? Tá de sacanagem! Todos os repórteres do CQC de repente começaram a fazer, qualquer comediante da Globo, ou minimamente conhecido, ou qualquer pessoa com fama de ser "engraçadinha" tá virando ator de stand up! Se você pesquisar no youtube, pode perder horas e horas assistindo a shows desse tipo, e todos brasileiros e recentes. A parada tá frenética!

Como disse, isso é preocupante. A comédia em pé é feita, basicamente, do comdeiante, do assunto e do público. E entre esses três, eu me preocupo mesmo é com o assunto! Porque a comédia estilo "cara limpa", como também é chamada, tem a particularidade de ser feita com assuntos corriqueiros do cotidiano. Não são piadas prontas, mas piadas de identificação, que só tem graça quando o público entende o que o cara está falando, por menos sentido que aquilo faça ao pé-da-letra. O problema é que é tanta gente fazendo stand up hoje em dia, que às vezes eu tenho a impressão que os assuntos vão acabar daqui a pouco!

Vou te falar que já ouvi textos sobre tudo. Não saberia dizer um tema sequer que ainda não tenha ouvido sendo abordado em textos de stand up! Se continuar assim, daqui a uns 2 anos no máximo, os assuntos pras piadas entrarão em extinção. É o mesmo raciocínio da sustentabilidade do planeta. O mundo naturalmente gera conteúdo pra piadas: fatos, boatos, tendências, enfim; mas a raça humana (de comediantes) deve usar esses recursos com inteligência, pois se for com muita sede ao pote, quem vai pagar o pato são as próximas gerações (que ficarão sem assunto pra piadas)!

Tô com a idéia de criar uma ONG pra se dedicar somente a isso. Temos que alcançar um procedimento auto-sustentável com as piadas. São muitas pessoas atrás delas, de modo que precisamos fazer uma peneira e credenciar os comediantes autorizados a satirizar os assuntos atuais e cotidianos do Brasil. O stand up é legal, mas se todos fizerem da forma que está acontecendo, já era. O nome da ONG será Viva Riso e com certeza terei muito trabalho!

ps: O Viva Riso não vai combater o extrapolamento da comédia através de blogs, porque pelo nível que os textos aqui estão alcançando, esse tacmgtacomdeus ia rodar...
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Assalto



Saí da Uerj no horário padrão: 22h. Depois de ficar de papo na faculdade e pegar o ônibus, devia marcar por volta das 22h40 quando finalmente subia minha rua depois de um dia rotineiramente cheio. Escutava música no celular, de modo que minha audição em relação ao ambiente em que caminhava era muito limitada. Por isso mesmo não escutei quando ele falou, percebi que era um assalto só pela movimentação.

Devia ter uns 16 anos no máximo, mas chegou com personalidade, andando rente ao muro, de boné, camisa branca, mochila nas costas e volume na cintura: "Perdeu, fica quietinho e passa tudo". Falava baixo, talvez querendo me levar a falar baixo também, e falava com um sotaque carregado de malandragem. Escutei muito mal essa primeira abordagem, pois como disse, estava ouvindo música. Tirei então os fones do ouvido. Ele, percebendo que só agora o escutava bem, repetiu impacientemente: "Passa tudo, perdeu playboy, fica quietinho".

Pode parecer que frieza da minha parte, mas não foi. Sempre fui mais frouxo que zaga do botafogo. Minha primeira reação tem mais haver com esses reflexos sem explicação que temos em momentos de tensa adrenalina. Não entreguei nada. A única coisa que vinha a minha mente era: "Até agora não vi arma nenhuma." O garoto era alto, mas magricelo e se tivesse que brigar a socos com ele, não que eu seja o Rock Balboa, mas acho que levaria a melhor. Fiquei a espera de um "motivo" real para que eu entregasse minhas coisas, e acho que ele entendeu, pois logo levantou a blusa e mostrou a arma posta grosseiramente na cintura da bermuda.

Na hora em que bati o olho percebi que era de plástico. Era um brilho fosco, daqueles plásticos ocos de brinquedos infantis. Não sou especialista em armas e a calçada da minha rua estava, como sempre, escura, mas tive muita certeza, não sei porque! Outra vez parecerá coragem, mas o nervosismo concentrado me levou a falar pro moleque: "Pô sangue-bom, tu vai me roubar com essa arma de brinquedo aí?" Ele pareceu desconcertado. Mais tarde eu pensei que se tivesse sido abordado por alguém sob o efeito de drogas, talvez essa minha fala seria o suficiente pra tomar um tiro na cara, mas ele não estava drogado. E mais, sua reação me soou como a certeza de que se tratava de um brinquedo mesmo:

"Que brinquedo o que rapá! Que brinquedo o que!" - dizia agressivamente, enquanto virava de lado, impedindo que eu olhasse diretamente para a arma. Estávamos ali parados há 15 segundos, talvez menos, e pela primeira vez falei algo pensado. O pico do nervosismo tinha passado e concientemente o repreendi "Tá de sacanagem né..!" Ele me olhava atentamente, e eu também o olhava. Uns 3 longos segundos se passaram congelados antes que o último movimento brusco terminasse surpreendentemente a história.

Ele correu! Bateu em retirada como se eu o estivesse assaltando! Quando o vi correndo, ri, não saberia dizer se era nervosismo ou por perceber na hora que a história era cômica. Quando cheguei em casa minhas pernas tremiam. Quando contei pra minha mãe, quase apanhei. "Você nunca mais faça isso!" ela disse pra mim. Já fui assaltado 3 vezes nesse Rio de Janeiro, e definitivamente esse foi o assalto mais legal que "sofri".
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ReVeRT


O tempo hoje ta passando devagar. Já fiz o que tinha que fazer no meu trabalho e agora, nada. A prova disso é que estou escrevendo no blógui. Pra você que acha que o tempo passa em velocidade constante, aí vai uma dica: não acredite em tudo o que te dizem. Segunda dica: não acredite no seu relógio também. Esse negócio de 1 hora ter 60' e 1' ter 60'' é a maior cascata da história!

A velocidade do tempo definitivamente passa de forma relacionada às circunstâncias em que estamos inseridos. O tempo tem vida própria, é inteligente, e tem um ótimo senso de humor, ou seja, ele gosta de te sacanear! É isso mesmo, o tempo é sarcástico e faz questão de correr quando você quer dormir mais um pouquinho, ou se arrastar quando você está na fila no banco. Vou te explicar como entender essa parada. O sistema é de medição, não compreensão, e foi inventado por mim mesmo há um tempo atrás, eu o chamo de Relação de Velocidade Relativa Temporal [ReVeRT].

É muito simples. Hoje, por exemplo, aqui no trabalho o tempo está passando devagar. Devagarzinho, na verdade, nem tanto. Numa relação de 3 pra 1, ou seja, olho pro canto do computador e está marcando 15:34. Depois de 3 minutos olho pro mesmo relógio e está marcando 15:35, entendeu? A cada 3 minutos, passa 1.

Alguém dirá "Ah, é coisa da sua cabeça...". Não entre nessa de acreditar que é coisa da sua cabeça! Lembre-se do Neo, se não fosse o Morpheus, o Neo teria vivido a vida toda acreditando que "era coisa da cabeça dele" e nunca teria acordado da Matrix, descoberto que era o escolhido, desenvolvido seus poderes e libertado Zion dos andróides!, entendeu? É importante acreditar na sua intuição!

Vai falar que nunca aconteceu de você estar fazendo algo superlegal e de repente VLAU cabou, o tempo passou! O tempo também corre. Chamo de ReVeRT contrário. Na forma de 3 x 1 a cada minuto, passam 3! Você sabe né, às vezes o tempo passa rápido demais também, mas o mais comum é sentirmos a lentidão. Os melhores exemplos de ReVeRT é na lerdeza dos ponteiros. E foi em uma dessas situações que eu descobri esse universo. Já faz alguns anos, quando estava na 2ª série do 2º grau, em meio a uma aula de física (que ironia, né?).

Olhava pro relógio que ficava em cima do quadro negro e não acreditava que só tinham passado 13 minutos na última hora de aula (Hoje eu sei que naquele momento a relação de velocidade relativa temporal [ReVeRT] era de pelo menos 7 x 1, algo muito acentuado). Decidi então averiguar aquilo. Pedi ao professor para sentar na primeira fila e dali me concentrei ao máximo olhando de perto pros ponteiros, principalmente o dos segundos. Pude perceber, juro, que o ponteiro de segundos estava quase parando. Ali foi o começo dos meus estudos.

A ReveRT é uma realidade e não se surpreenda quando daqui a alguns anos me ver recebendo o Nobel de física (US$1milhão, sabia? Pode deixar, te dou um presente). Até lá vou fazendo minhas anotações. Enquanto não viro o novo Newton, me ajude, comece a observar com cuidado os momentos em que você sentir que o tempo passou rápido demais ou devagar demais e me diga, contribua para a ciência.

ps: às vezes fico impressionado com as coisas que escrevo, de verdade. Pelo menos agora já deu a hora de eu ir embora daqui... rs
 
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