segunda-feira, 20 de junho de 2011

Correria


Não diria que a noite estava fria, apenas com uma "friaquinha". Saí de casa com um casaco fino, calça jeans e tênis. Num bolso do casaco, a chave de casa. No outro bolso do casaco, minha carteira. Num bolso da calça, meu celular de onde saíam os fones até meus ouvidos. Na mão, apenas um traquinas de chocolate. Por volta das 18h30, não tive a fome suficiente pra jantar antes de sair, mas sabia que logo a sentiria. Assim saí, despretenciosamente, descendo a ladeira costumeira, de bobeira, daquela quinta-feira. Toda a tranquilidade, porém, fugiu a galope quando vi meu ônibus se direcionando ao ponto, no momento em que pelo menos 50 metros me distanciava dele. O único ônibus que me serve. Aquele que demorará uns 15 a 20 minutos pra passar de novo. Não pensei 2 vezes. Corri.

Corri segurando os bolsos. Correr de calça jeans é meio tenso, mas corri confiante porque o ônibus pararia no ponto e eu teria tempo de alcanç... Êta ferro, ninguém fez sinal, ninguém quis descer. Lá se foi meu ônibus. Na hora percebi que o sinal situado a uns 50 metros depois do ponto estava fechado. Nem diminui o ritmo, continuei no estilo Usain Bolt e meti o pé no acelerador. Nesse exato momento, dois desastres simultâneos: minha chave cai do meu bolso e o sinal abre. Uns raio de desânimo me faz parar. Na verdade eu só percebi que a chave caiu porque o pessoal do ponto de ônibus (por onde o ônibus passara há 10 segundos e agora quem passava era eu) gritou!

Eu vinha correndo, de modo que quando parei a chave já estava a uns 10 metros atrás de mim. Um senhorzinho então me surpreendeu. Possivelmente, tinha me visto perder o ônibus e entendido minha situação. Não sei. Só sei que ele, percebendo estar entre eu e a minha chave, correu até elas, pegou rapidamente no chão e correu até a mim pra que eu continuasse minha missão. Confesso que eu já tinha desistido, mas o coroinha me constrangeu. Dane-se que o sinal abriu, agora o ônibus estava parado no ponto seguinte, aquele do final da rua, que tem até um sinal e um pequeno congestionamento. Era tudo ou nada! Corre Forrest!

Corri e corri. Talvez nesse momento eu tenha sentido o primeiro traço de cansaço. Mas ele estava tão perto. Já me gabava pelo prêmio do esforço. Eu iria conseguir. O sinal abriu, eu apertei o ritmo. 30 metros, 20 metros, 15, 10... Lá se vai o maldito de novo. Chegou ao cruzament, virou à direita e foi-se embora. Novamente cheguei ao ponto atrasado. 5 segundos de atraso. Mãos no joelho, o coração batendo forte, o traquinas completamente remexido em algum lugar entre a boca e o estômago, a fronte transparecendo meu desânimo. Eu tinha corrido até ali seguramente uns 300 metros - em marcha forte, de calça jeans e casaco! E com um pacote de biscoito na mão!

Eis o apse da minha aventura! Dali o ônibus pegaria uma rua que tinha 2 pontos e um sinal. Ao sair desta rua, atravessaria a avenida e pararia no shopping, onde várias pessoas descem e sobem. De onde eu estava, eu poderia chegar ao cruzamento e ao invés de virar a direita como o ônibus, poderia ir em frente e ir correndo até o shopping, na esperança de chegar lá antes dele. Putz, mas essa opção me daria correr mais uns 400 metros! Não é hora de pensar muito! Partiu Usain!

Corri. Assim que passei do cruzamento, minhas pernas já começaram a reclamar. A rua tinha um pequeno declive e quando cheguei nessa parte não aguentei, diminui o ritmo. Agora parecia que estava batendo um cooping. Quem olhasse, não entenderia nada. Estava correndo sem pressa como num momento de lazer, mas com uma roupa como se estivesse indo pro shopping. Corri e não parei. Já estava bufando e o trakinas já estava indeciso se descia ou voltava à boca. Ao chegar ao final da rua já praticamente andando, não acreditei quando vi o ônibus cruzando a avenida e parando em frente ao shopping. Minha saga estava chegando ao fim. Atravesse a rua andando e ainda fiquei, ironicamente, uns bons 30 segundos na porta até conseguir subir no coletivo.

Ao passar pela roleta, tinha certeza de que vomitaria. A vista estava escura, estava tremendo, suando frio. Sentei, tirei o casaco e abri a janela. Fechei os olhos e fiquei respirando fundo até a sensação ruim passar. Tudo deu certo. 30 minutos depois já tinha chegado ao meu destino. Mas na hora de levantar e puxar a cigarra, preferi deixar o trakinas lá no banco. Só de olhar pra ele, passava mal.

[Textos novos sempre às terças e sextas]

3 comentários:

Anônimo disse...

Pobre trakinas, vítima da insanidade de um corredor.

Érikinha disse...

Putz grila, eu acho que tu gosta de passar por estes perrengues...rs

Anônimo disse...

hahahaha já fiz coisa parecida de salto. mas n, n chegou ao nivel da sua saga.

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