segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Olhar Clínico


O sol ainda escalava o céu em busca do meio-dia. Não passava das 10h, talvez 10h30. A praia não estava cheia, pois apesar do ensolarado o dia não era quente. Outono tem desse "friozinho". Bom de ficar jogado na areia. Debaixo do infinito céu sem nuvens, cantarolava Raul. Sempre gostei de ir à praia sozinho. Na verdade, sempre gostei de ficar sozinho. Minha mãe costumava dizer "João Paulo, você ainda vai morar numa caverna!" Fico ali, sem falar nada, só percebendo o que acontece ao meu redor. Gosto de olhar para as pessoas. Sinto-me como um grande especialista do comportamento humano. Digo sempre poder conhecer a fundo as pessoas só de olhar para elas. Tenho olhar clínico.

Mas naquela manhã na praia, meus olhares estavam concentrados em uma só pessoa - uma figura angelical. Nunca pensara que pudesse existir criatura tão linda. Indagava-me como o namorado de uma mulher com cabelos como aqueles permitia que ela fosse à praia sozinha (sim, porque uma mulher daquelas certamente tinha um namorado - poria minha mão no fogo, como não?). Pensava no que deveria dize-la, afinal, lá estava ela ao sol, sozinha. Tinha que agir rápido antes que minha Afrodite decidisse ir embora. Minha autoconfiança ajudou-me a vencer a inércia e ir em sua direção, mesmo que durante aqueles poucos passos não soubesse ao certo o que iria dizer.

Fui me achegando com os olhos sedutores em cima dela. A partir de certa distância, percebeu minha aproximação, mas ainda assim continuei olhando-a fixamente. Com a voz ligeiramente agravada perguntei: "Oi, gatinha, qual seu nome?" No que ela me respondeu: "João Paulo". Despedi-me friamente do meu xará pensando em como são estranhos os dias em que vivemos.
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3 comentários:

Diogo Lima disse...

É, não existem muitos, mas de vez em quando nos esbarramos com "Joões paulos". A roberta close é o melhor exemplo disso; a foto que você escolheu foi perfeita, ela parece uma deusa grega olhando para nós mortais. Quem imaginaria que ela já foi Luis Roberto Gambine Moreira? Se ela não falasse nada, qualquer pretendente sequer desconfiaria que ela poderia ser seu xará...

Anônimo disse...

Com exceção das últimas frases, este texto me lembrou uma música d Chico com o Ivan - Renata Maria. Conhece?

Faela'mparo disse...

Afinal pessoas são decepcionantes...

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