Saí da Uerj no horário padrão: 22h. Depois de ficar de papo na faculdade e pegar o ônibus, devia marcar por volta das 22h40 quando finalmente subia minha rua depois de um dia rotineiramente cheio. Escutava música no celular, de modo que minha audição em relação ao ambiente em que caminhava era muito limitada. Por isso mesmo não escutei quando ele falou, percebi que era um assalto só pela movimentação.
Devia ter uns 16 anos no máximo, mas chegou com personalidade, andando rente ao muro, de boné, camisa branca, mochila nas costas e volume na cintura: "Perdeu, fica quietinho e passa tudo". Falava baixo, talvez querendo me levar a falar baixo também, e falava com um sotaque carregado de malandragem. Escutei muito mal essa primeira abordagem, pois como disse, estava ouvindo música. Tirei então os fones do ouvido. Ele, percebendo que só agora o escutava bem, repetiu impacientemente: "Passa tudo, perdeu playboy, fica quietinho".
Pode parecer que frieza da minha parte, mas não foi. Sempre fui mais frouxo que zaga do botafogo. Minha primeira reação tem mais haver com esses reflexos sem explicação que temos em momentos de tensa adrenalina. Não entreguei nada. A única coisa que vinha a minha mente era: "Até agora não vi arma nenhuma." O garoto era alto, mas magricelo e se tivesse que brigar a socos com ele, não que eu seja o Rock Balboa, mas acho que levaria a melhor. Fiquei a espera de um "motivo" real para que eu entregasse minhas coisas, e acho que ele entendeu, pois logo levantou a blusa e mostrou a arma posta grosseiramente na cintura da bermuda.
Na hora em que bati o olho percebi que era de plástico. Era um brilho fosco, daqueles plásticos ocos de brinquedos infantis. Não sou especialista em armas e a calçada da minha rua estava, como sempre, escura, mas tive muita certeza, não sei porque! Outra vez parecerá coragem, mas o nervosismo concentrado me levou a falar pro moleque: "Pô sangue-bom, tu vai me roubar com essa arma de brinquedo aí?" Ele pareceu desconcertado. Mais tarde eu pensei que se tivesse sido abordado por alguém sob o efeito de drogas, talvez essa minha fala seria o suficiente pra tomar um tiro na cara, mas ele não estava drogado. E mais, sua reação me soou como a certeza de que se tratava de um brinquedo mesmo:
"Que brinquedo o que rapá! Que brinquedo o que!" - dizia agressivamente, enquanto virava de lado, impedindo que eu olhasse diretamente para a arma. Estávamos ali parados há 15 segundos, talvez menos, e pela primeira vez falei algo pensado. O pico do nervosismo tinha passado e concientemente o repreendi "Tá de sacanagem né..!" Ele me olhava atentamente, e eu também o olhava. Uns 3 longos segundos se passaram congelados antes que o último movimento brusco terminasse surpreendentemente a história.
Ele correu! Bateu em retirada como se eu o estivesse assaltando! Quando o vi correndo, ri, não saberia dizer se era nervosismo ou por perceber na hora que a história era cômica. Quando cheguei em casa minhas pernas tremiam. Quando contei pra minha mãe, quase apanhei. "Você nunca mais faça isso!" ela disse pra mim. Já fui assaltado 3 vezes nesse Rio de Janeiro, e definitivamente esse foi o assalto mais legal que "sofri".
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7 comentários:
hahahahahahaha! o engraçado é q eu é q digo pra minha mãe parar de fazer loucuras nos assaltos q ela sofre, na última vez ela pediu troco pro bandido! hahahahaha
Bom texto...
sua prosa tem uma dinâmica mto interessante!
gostei!
Uma vez eu fui assaltada e os caras não quizeram meu celular porque era NOKIA da lanterninha. Assaltaram a minha amiga mas eu não, no final todo mundo riu, ATÉ ELES. HAHAHA
ESSE FOI O ASSALTO MAIS LEGAS QUE SOFRI!
kkkkkkkkkkkk
Mas é mesmo um perigo isso hein!
Tá doido. Não precisa nem mostrar arma. Se me pedir eu já passo a grana. Tô fora dessa. E outra coisa, os caras podiam estar matando, podiam estar roubando, mas estão ali, honestamente assaltando!
Hahaha, mto bom cara!
Isso mesmo! Eu tbm faço isso, espero um bom motivo pra entregar alguma coisa...
Arma de brinquedo! ahahahah
Bia
hahaha eu adoro essa história, já escutei tu contando...
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