Stand up comedy é um tipo de comédia típico da cultura americana, onde o comediante não se caracteriza, nem incorpora personagem algum, mas diverte a platéia através de um "desabafo" sobre percepções suas em relação ao cotidiano. Esse tipo de comédia já faz sucesso na América do Norte há muito tempo, mas parece ter encontrado público cativo aqui no Brasil nos últimos anos. Alguns dizem que vai passar, porque é modinha. Eu já acho que não vai passar, mas é modinha mesmo. Pra mim, o stand up comedy (ou, "comédia em pé") se transformou num tipo de comunicação que o público brasileiro aprendeu a entender e isso não se perde nunca mais, mas uma coisa não há como negar: tá muito modinha essa parada! Todo mundo faz stand up!
Isso é preocupante, sabia? Outro dia recebi um RT do Serginho Malandro convidando pro novo show dele de stand up! Putz! glu-glu ié-ié!? Tá de sacanagem! Todos os repórteres do CQC de repente começaram a fazer, qualquer comediante da Globo, ou minimamente conhecido, ou qualquer pessoa com fama de ser "engraçadinha" tá virando ator de stand up! Se você pesquisar no youtube, pode perder horas e horas assistindo a shows desse tipo, e todos brasileiros e recentes. A parada tá frenética!
Como disse, isso é preocupante. A comédia em pé é feita, basicamente, do comdeiante, do assunto e do público. E entre esses três, eu me preocupo mesmo é com o assunto! Porque a comédia estilo "cara limpa", como também é chamada, tem a particularidade de ser feita com assuntos corriqueiros do cotidiano. Não são piadas prontas, mas piadas de identificação, que só tem graça quando o público entende o que o cara está falando, por menos sentido que aquilo faça ao pé-da-letra. O problema é que é tanta gente fazendo stand up hoje em dia, que às vezes eu tenho a impressão que os assuntos vão acabar daqui a pouco!
Vou te falar que já ouvi textos sobre tudo. Não saberia dizer um tema sequer que ainda não tenha ouvido sendo abordado em textos de stand up! Se continuar assim, daqui a uns 2 anos no máximo, os assuntos pras piadas entrarão em extinção. É o mesmo raciocínio da sustentabilidade do planeta. O mundo naturalmente gera conteúdo pra piadas: fatos, boatos, tendências, enfim; mas a raça humana (de comediantes) deve usar esses recursos com inteligência, pois se for com muita sede ao pote, quem vai pagar o pato são as próximas gerações (que ficarão sem assunto pra piadas)!
Tô com a idéia de criar uma ONG pra se dedicar somente a isso. Temos que alcançar um procedimento auto-sustentável com as piadas. São muitas pessoas atrás delas, de modo que precisamos fazer uma peneira e credenciar os comediantes autorizados a satirizar os assuntos atuais e cotidianos do Brasil. O stand up é legal, mas se todos fizerem da forma que está acontecendo, já era. O nome da ONG será Viva Riso e com certeza terei muito trabalho!
ps: O Viva Riso não vai combater o extrapolamento da comédia através de blogs, porque pelo nível que os textos aqui estão alcançando, esse tacmgtacomdeus ia rodar...
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3 comentários:
Eu já me peguei pensando a mesma coisa que você.
Mas acho que assuntos engraçados e corriqueiros são sempre recicláveis e apresentados de maneiras dinâminas... é tipo a Bíblia (forcei).
Na verdade, nunca ri com nenhum stand up comedy que vi. E olha que eu gosto muito da comédia americana.
O debate é pertinente. Fique atento, pois começa a surgir uma teoria sobre os "Comédia em Pé". Um bom exemplo disto é o filme TEXTO NOVO do Rafinha Bastos no youtube em que mostra a construção de um texto deste estilo. Foi este mesmo Rafinha, humorista e jornalista (o que não é muito diferente), que disse em entrevista ao humorista Lobão que o Stand Up foi um grito de liberdade para a comédia no Brasil, pois nos livramos daquele padrão de personagenzinhos ao estilo Escolinha do Professor Raimundo. Confesso que discordo bastante dele, pois não gritamos liberdade e sim, como vc bem ressaltou, fomos beber em outro modelo, agora menos europeu e totalmente norte-americanizado. O pior é que até as piadas estão caindo de nível e entrando muitas vezes naquele sem-gracismo do "levante daí sua bunda gorda" ao estilo de piadas BigMac. Há avanços, claro, mas tb retrocessos imensos. Lamento muito o Brasil, que é um país de humoristas brilhantes, deixar de lado trabalhos como o do Henfil, Jaguar e do próprio Chico Anysio. Entretanto, nesta leva, há piadas que se salvam e humoristas que se destacam, cito uma vez mais o mesmo Rafinha.
Não creio no fim das temática, acredito sim, que cada vez mais se necessitará de inteligência para trabalhar com elas e com a saturação. A seleção natural fará com que só sobrem os humoristas mais aptos. Os Serginhos Malandrinhos voltarão para a lixeira de onde nunca deveriam ter saído.
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