Primeiro, é importante que se diga: a história que vou contar é verídica. Dito isto, lá vou eu.
Na rua Geremário Dantas, na Freguesia, em Jacarepaguá, tem uma loja de móveis na altura da rua Edgard Werneck, perto da pizzaria Papizzo. Bem, você que não está familiarizado com essas referências, não importa. O importante é saber que dentro desta loja acontece algo muito estranho. Sabe aquelas lojas de móveis espelhadas com cômodos montados, que parecem mais uma casa de vidro? Salas legais com tapete, mesa de centro, uma tv e um super sofá; conzinhas com geladeira, fogão, mesa e tal; quartão de casal com uma cama king size, armário... Tudo com uma iluminação indireta, com as cores bem escolhidas, só pra você ter vontade de comprar tudo aquilo. Na verdade, mais do que comprar tudo, quando você vê um cômodo daqueles bem legal, fala sério, não te dá vontade de morar ali!? E se eu te dissesse que dentro dessa loja mora mesmo alguém!? Alguém não, alguns. Acho que uma família completa!
A primeira vez que vi uma movimentação fora do normal foi quando passei em frente a loja fechada e vi um coroa de short, camiseta e chinelos sentado na "cozinha" conversando amigavelmente com uma mulher que parecia ser sua filha, também com roupas de "ficar em casa". Pensei que pudesse ser o dono ou algum cliente vip, sei lá. Na verdade não pensei muito, vi, achei estranho, mas não raciocinei, segui. Só raciocinei mesmo quando passei em frente a mesma loja, dessa vez num domingo de manhã por volta das 8h30 e vi um cara vendo tv "na sala" acompanhado de um moleque de mais ou menos 14 anos, com os pés em cima da mesa de centro. Não era segurança, não era cliente, não era dono. Acredite em mim quando digo: ao olhar praquele sujeito, eu vi um simples e pacato morador. O problema é que o pacato cidadão morava na loja de móveis! Aí eu fiquei encucado! Seria possível uma família morando dentro de uma loja!?
Mas tive que bater o martelo quando passei lá novamente nesse horário (é que eu passo em frente essa loja para ir pra igreja no domingo de manhã) e vi um coroa, talvez o mesmo que conversara com a filha na cozinha na primeira ocasião. O cara, dessa vez, estava FAZENDO A BARBA! Sem camisa, um shortinho e uma toalha no ombro. Eu não acreditei! Quase bati no vidro da loja e perguntei o que diabos aquele cara tava fazendo ali! Só não bati porque, sinceramente, do jeito a la vonté que ele tava ali, ele com certeza ia virar pra mim e dizer: "o que eu tô fazendo aqui? O que te parece!? Eu tô na minha casa! Dá licença? Agora saia daqui antes que eu chame a polícia! Você está invadindo minha privacidade!"
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sexta-feira, 29 de abril de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
Tênis Branco
Você pode negar, mas todos nós somos ratinhos de laboratório diante de todo o consumismo implacável que rege nossos dias. Ninguém tem a menor dificuldade de botar na ponta do lápis 10 coisas que gostaria de comprar agora, caso tivesse grana. E ninguém tem dificuldade de admitir que pelo menos 5, dessas 10 coisas, não são realmente necessárias. Eu tenho algumas fraquezas em relação ao consumismo. Uma delas são os tênis brancos. De tempos em tempos eu tenho que comprar um tênis novo. Não tenho muitos pares, mas confesso que não tenho poucos. Aliás, pensando bem, teria pelo menos 1/3 a menos caso não fosse fraco diante dos brancos. Deixe-me explicar.
O que acontece é o seguinte: quando chego em frente uma vitrine de uma loja de calçados, antes que veja 3 ou 4 pares, já vi um tênis branco reluzente que bota o resto no chinelo! Porque o tênis branco, quando novo, não é páreo pra nenhum outro! Sempre acho o branco mais bonito! E é mesmo! Mas tem um problema, o tênis branco fica novo 5 minutos, depois já era. A primeira vez que você sai com seu tênis branquinho cor da neve no pé é sensacional! A segunda, é maneiro. A terceira, legalzinho. A quarta... "Porcaria de tênis que eu comprei! Essa droga já tá toda suja!" É a minha sina. Vejo, me apaixono, compro, uso, sujo, me arrependo, vou comprar outro... Vejo, me apaixono, compro... e assim é. E assim será. E só pra piorar eu tenho outro problema. Dizem que as cores e os estilos das roupas devem acompanhar o tempo, o dia claro e ensolarado, o dia cinza e chuvoso, etc. Eu nunca penso nessa parada! Já perdi a conta de quantas vezes saí com meus tênis branquinhos para andar em lamas, poças e chuvas. E assim minha sina vai se eternizando: "uso, sujo, me arrependo, vou comprar outro..."
Estou pensando em alguma forma de não cair nessa armadilha mais uma vez. Eu tô precisando comprar um tênis mais arrumado, tipo pra usar com uma roupa mais social e tal. Só que eu, sinceramente, estou com medo de sair pra comprar essa parada e me deparar com um tênis branco brilhantemente lindo que fará cair por terra todas as minhas razões para não comprá-lo e me hipnotize como as sereias hipnotizaram Ulisses e seus companheiros na Odisseia (nossa..!). Quem sabe pedir pra alguém comprar pra mim, assim não teria que olhar nos olhos da medusa. Ou então comprar pela net.
Comprar pela internet é uma boa ideia! Mas pra você ver como minha vida é mesmo uma caixinha de histórias interessantes (como a sua também, é só prestar atenção!), há uns 3 meses atrás vi um tênis da Everlasting bem legal na internet e decidi comprá-lo. O modelo tinha as opções branco, azul marinho e preto. Qual era o mais bonito? Lógico, o branco. Qual eu tive vontade de comprar? Exatamente, o branco. Mas eu não sou otário, já sujei muito tênis na vida e já aprendi - comprei então o preto! Uma semana depois chegou na minha casa a encomenda. Quando abri, pra minha surpresa, o bagulho veio errado! Veio o branco! Eu tive que rir quando vi. Lógico que eu não troquei. Lógico que ele já tá todo sujo. Lógico que eu tenho raiva só de pensar nisso.
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sexta-feira, 15 de abril de 2011
Trilha
Nos últimos dias estou vivendo fortes emoções. Bendita hora que tive uma ideia despretenciosa: baixar trilhas sonoras de filmes. Fui pra net e downloadiei músicas que eu lembrava ou que eu tinha impressão de que quando assisti a tal filme, gostei da trilha. Não baixei álbuns completos, mas somente as principais - as músicas-temas dos filmes.
Que ideia tive! Eu tenho o costume de ouvir música no celular, são mais de 4G de música andando no meu bolso. De Foo Fighters a Chico Buarque, de Martinho da Vila a Michael Jackson, de Sade a Bob Marley, tem de tudo! Fora coisas tão boas quanto desconhecidas que um dia virei aqui só pra falar delas. Sou música e viciado em música e sempre é bom ouvi-la.
Mas ultimamente tem sido melhor do que o habitual. A emoção de ouvir trilhas é diferente. Além de viciado em música, sou viciado em filmes e os temas de certos filmes são verdadeiras bombas de empolgação pra mim. Tinha que ver a primeira vez que eu ouvi a música de Infiltrados! Comecei a me sacudir! E a música do Jurassic Park? Quase chorei (eu vi esse filmes pelo menos 40 vezes, sendo 35 antes dos 11 anos.) Estou escutando a trilha de Gladiador todos os dias antes de dormir! E muitas outras que não cansam de me impressionar pela quantidade de emoção que carregam. Definitivamente, os caras que selecionam essas músicas pros filmes só não são melhores que aqueles que as compõe por encomenda. Bato palma.
Minha lista não tá fechada e aceito sugestões. Por enquanto a setlist é essa. Não tive paciência de copiar e colar os links pra download, mas no 4shared tem tudo, é só procurar, caso se interesse.
A Origem
Jurassic Park
Matrix
Crash
Batman Begins
A Ilha do Medo
Coração Valente
Avatar
O Resgate do Soldado Ryan
Gladiador
Infiltrados
Só Sonzêra!
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terça-feira, 12 de abril de 2011
Lagartixa
Não vou perder tempo explicando o inexplicável, o fato é que tenho medinho de lagartixa. Ela fica lá paralisada na parede e do nada se mexe freneticamente atrás de um mosquito, fora isso, em situações de pergigo se desfaz do rabo. A isso se resume a vida de um animalzinho desses, mas é esse bicho que me dá nos nervos. Se uma lagartixa está no cômodo, eu saio. Eu tenho que vê-la morrendo ou indo embora, caso contrário, não alcanço paz de espírito. Se ela some atrás da estante ou do sofá, já era - angústia total. Antes que você me ache o mais idiota dos homens, quero dizer: eu sei que isso é o calcanhar de Aquiles da minha masculinidade.
Agora, eu não sou resignado com isso não. Sei que é maroto e sempre que vejo tal criatura, me esforço para vencer minhas barreiras psíquicas. Mas o dia em que absolutamente avancei sobre elas e investi toda a energia possível pra estinguir de vez esse medinho ridículo, foi o dia da derrota em que mais me senti subjulgado por ele.
Cheguei na casa do meu pai e não tinha ninguém lá. Subi as escadas e entrei no meu quarto. Larguei a mochila na cama e acendi a luz do quarto. Instantaneamente vi a lagartixa na minha parede, do tamanho de um calango bem alimentado, a uns 50cm do meu armário. Pensei rápido, se ela fosse pra trás do móvel, teria que dormir na sala e isso seria o cúmulo da frouxidão. "É hoje" - pensei, decidido - "É hoje que essa história chega a seu fim".
Corri escada abaixo, peguei uma vassoura e voltei correndo, já me sentindo liberto de meus grilhões interiores. Ao chegar novamente no quarto, ela ainda estava lá, no mesmo lugar, olhando para mim e respirando freneticamente como se prevesse o perigo. Teria que ser um único golpe, se eu errasse o alvo, ela iria para trás do armário e eu poria tudo a perder. Me aproximei vagarosamente já com a arma (vassoura) em punho. Ao alcançar a distância exata, respirei fundo e soltei um Meteóro de Pégasus na pequena monstra! Era o fim do meu medinho? Minha vitória absoluta sobre a besta?
Não. Mal sabia que minha vitória se transformaria na pior derrota. Meu golpe foi tão furioso que a bicha caiu no meu do quarto, partida em duas! Na verdade em três, já que o rabo pulou na sua clássica artimanha de defesa. O rabo mexia loucamente enquanto a parte de cima do corpo, ainda viva, tentava fugir com as duas patas dianteiras e um olhar desesperado. Entre as duas metades, esparramado no chão do meu quarto, havia sangue e, juro, órgãos! Um rico material orgânicao consideravelmente colorido.
Ao ver aquela imagem - putz - fiz a pior careta da minha vida e fui fuzilado pelo sentimento de nojo. Pensei 10 segundos e tomei a decisão mais sábia para aquele momento: saí do quarto e fui ver TV. Fiquei na sala até ter certeza de que voltaria e ela estaria inerte e morta. Assim fiz. Depois de uns 10 minutos, voltei e fiz o serviço do rabecão. Joguei o difunto fora, limpei o chão e tive total clareza: a lagartixa é mais forte que eu.
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quinta-feira, 7 de abril de 2011
1º de Abril
*Pro Paulinho Salim Maluf, todo dia é 1º de abril
Eu costumo dizer que odeio 1º de abril. Deixando de lado minha mania de opiniões extremadas, posso dizer que não entendo esse dia. Quem inventou esse dia? Deve ter sido algum mentiroso tão 171 que começou a espalhar que nesse dia era permitido mentir! E as pessoas acreditaram! Acreditaram tanto que esse dia é famoso por aqui, tanto que a gente sabe né... mentir no dia 1º de abril é engraçadinho. Interessante, porque nossas mamães, desde que éramos pequetitinhos, nos ensinaram a não mentir. "Mentir é feio", não é? Pois então, a não ser que seja no dia 1º. "No dia 1º de abril pode" - dane-se a moralidade e os bons costumes, mentir nesse dia é legal.
Já pensou se criassem o Dia do Xingamento? Dia 20 de janeiro pode xingar a vontade porque tá liberado. Você aproveita pra trocar uma ideia com seu chefe...! Não precisa temer, não pega nada, hoje é 20 de janeiro! E o professor de física? E a coordenadora do colégio? E seu irmão chato pra cacete? Esvazie seu coração de todo o ódio porque o Dia do Xingamento é pra isso mesmo, pra xingar os outros!
E o dia do Beijo na Boca? Que tal? Esse vai ser divertido, não é mesmo? Tá liberado galera, quando chegar 09 de fevereiro, sai beijando todo mundo porque o Dia do Beijo na Boca chegou! Namorados e namoradas não podem ter crises de ciúmes; as delegacias se preparam pra lidar com todos os 3.456.723 casos de assédio sexual - E o pior: tem que inocentar todos os acusados, afinal, é Dia do Beijo na Boca!
Ih, e o Dia do Roubo? Relaxa, não é nada muito sério não, só um roubozinho, um furtozinho de leve. C&A e Lojas Americanas nem abrem no dia 14 de Maio. Cuidado com sua carteira, celular, suas coisas de valor, porque nesse dia o pessoal brinca de roubar os outros. Mas preste atenção, é brincadeira, se você for roubado, leve na esportiva, afinal, Dia do Roubo é Dia do Roubo! E ninguém pode ser preso por isso. Se não gosta dessas comemorações, fique em casa. Quer dizer, isso se ninguém te "pregar a peça" de roubar sua casa, mas enfim...
E pra fechar o calendário de dias divertidíssimos, 30 de Setembro - Dia do Homicídio! Quer dia mais trilegal que esse!? Os rabecões faturam, o mercado de trabalho fica dinâmico com as novas vagas, os cemitérios ficam uma loucura! O Dia do Homícidio viraria até feriado, com certeza! Seria tanta gente impossibilitada de ir trabalhar (já que estariam ocupadas matando ou morrendo) que o governo logo perceberia que o melhor seria suspender todas as aividades. Legal né!? Também acho! A gente tá dando mole! Dia da Mentira é pouco. Se é pra achar bonito o que é feio, chuta logo o pau dessa barraca e cria o calendário completo!
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segunda-feira, 4 de abril de 2011
Medinho
Tá relampejando muito nesse momento, enquanto escrevo esse texto. O tempo virou e começou a chover forte. Os clarões no céu são daquele jeito, parece que Deus tá tirando uma foto da Terra, alguns segundos depois chega o barulho do trovão. Aliás, relâmpago é a luz e trovão é o barulho? Acho que sim, de qualquer forma não faz muito sentido ter dois nomes, já que um é o outro e o outro é o um. Eu, particularmente, curto os relâmpagos. Sou um fã dos fenômenos naturais e esse pra mim é um dos mais legais. Quando começa a tempestade de verão eu me sinto bem e sou o primeiro a ir pra varanda ver de perto. Mas tem gente que não gosta de relâmpagos, tem medo. Quer dizer, medo não, medinho - eu explico a diferença.
Medo é um sentimento natural de preservação da vida. Nós temos medo daquilo que nos ameaça. Todo mundo tem medo e não precisa se envergonhar dele. Quem não tem medo da morte, da solidão, medo em momentos de perigo, etc? Muito diferente do medinho. Medinho é o medo irracional que se tem de coisas inofencivas. Os mais clássicos são barata, rato, escuro, altura, velocidade, mar, fantasma, filmes de terror, bicho-papão (mais comum entre as crianças).
Antes de qualquer reflexão sobre o medinho, é preciso dizer algo sobre ele: todos têm os seus. Se alguém diz que não tem nenhum medinho irracional está mentindo ou não se conhece direito. É só uma questão de averiguar melhor, até porque os medinhos podem ser bastante exóticos. Eu mesmo conheço um cara que tem medo de dormir em ônibus e ser degolado - é isso mesmo, o medinho é especificamente para os ônibus, já que nos coletivos costumamos adormecer com o pescoço esticado e a cabeça escorada no banco.
Pra pensarmos sobre a inofencividade dos medinhos, peguemos como exemplo o medinho mais clássico de todos: rato. Diga-me, o que aquele bicho escroto faz para as pessoas terem tanto medo? Os troxas perdem tempo tentando explicar "Eu não tenho medo, tenho nojo..." Que tipo de argumento é esse? Nojo não causa as reações que costumamos ver, como gritos, tremedeiras e até choro. As mulheres, famosas por fugirem das reodores, deviam prestar atenção nos homens quando aparecer uma criaturazinha nojenta dessas. Vão perceber que eles (ou nós...) também tememos os Mickeys.
Os medinhos são incovenientes, mas fazem parte da pessoas e ajudam a construir a identidade delas, assim como características de personalidade. A pior coisa do mundo é alguém querer "libertar" outra pessoas de um medinho. "Vem cá pra beira desse precipício, deixa de ser bobo! Vamos perder esse medo de altura é agora!". A intenção pode até ser boa, mas é uma puta imbecilidade! Tentar "ensinar" alguém a não ter medo é simplesmente idiota. Não é assim que funciona. Os medinhos são irracionais, por isso se tornam tão especiais.
Até porque, não é tão simples acabar com medinhos. Eles estão plantados muito mais fundo do que pensamos. Eu odeio lagartixas e o dia que decidi vencer esse medinho na marra foi o mais traumático de todos, mas essa história eu conto melhor outro dia. A lição de hoje é: respeito os medinhos dos amiguinhos porque você nunca sabe quando uma barata vai entrar no seu sapato antes de você calça-lo. Eca...
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