terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tatoo


Quando tinha 7 anos, decidi torcer pro Flamengo. Liguei a tv e vi que o time da Gávea e o Botafogo estavam se enfrentando. Eu, que simpatizava com os dois times, prometi pra mim mesmo: o time que vencer esse jogo, será o time do coração. A cada lance a tensão aumentava, pois sabia que aquele jogo valia mais do que qualquer final. Pois bem, Flamengo ganhou e eu me tornei flamenguista. Só que, mesmo depois disso, continuei a gostar do Botafogo. E para ser sincero, cada vez gostava menos do rubro-negro. Num dia qualquer, decidi me contradizer e mudar de time. Hoje torço para o glorioso. Sou feliz assim.

Quando tinha 15 anos, virei fã da banda Guns n Roses. O estilo do Axl Rose e a postura rock star do Slash me cativaram. Ouvia Guns todos os dias, até decorar todas as músicas do álbum Appetite for Destruction! Aprendi a tocar guitarra por causa deles, é mole!? Um tempo depois, alguns anos mais velho, confesso que não gosto tanto. Pra falar a verdade, não consigo mais escutar aquela barulheira. Sou mais chegado em Djavan, Gilberto Gil, Chico. Eu, que dizia que aquilo era o melhor som do mundo, não suporto mais. Mudei. Hoje, sou mpbista. Sou feliz assim.

Quando tinha 17 anos, arrumei uma namorada. A beleza, simpatia e inteligência de Jéssica sempre me impressionaram. Ela sempre teve tudo que alguém gostaria de ter em uma namorada. Sempre rimos, nos divertimos muito juntos. Mas, estranho..., o sentimento foi mudando. Não sei explicar direito, mas a cada mês, a cada semana, a cada dia, ia gostando menos dela. Um dia mandei a real pra ela - era a hora de terminar. Ela me perguntou o que tinha feito, eu disse a verdade: "nada". Não gostava mais ué, mudei. Desde então, estou solteiro. Sou feliz assim.

Quando tinha 19 anos passei pro vestibular. Desde pequeno, queria estudar medicina e agora, havia alcançado meu objetivo. Era o terceiro ano que estava tentando. Tentei com 17, não passei. Com 18, nada. Já tinha dito pra mim mesmo que essa seria a última vez, e passei. O dia mais feliz da minha vida foi quando vi meu nome naquela lista. Mas, precisei de apenas dois meses pra perceber que medicina não é minha praia. Descobri que não é isso o que eu quero pra mim. Ficar fazendo plantão, vendo gente morrer, usando roupa branca, a vida toda? Não rola. Sabe o que eu quero mesmo? Fazer desenho industrial! Sempre gostei de desenhar, mas nunca tinha pensado em fazer isso da vida. Era tão fanático pela medicina que não considerava isso. Enfim, perdi 3 anos da minha vida na carreira errada, mas me achei - isso é o que importa. Mudei. Sou feliz assim.

Quando tinha 22 anos, realizei um sonho de infância, comprei uma moto. Com 18 anos, já tinha tirado a carteira, mas não tinha grana pra comprar uma máquina. Mas 4 3 anos depois, bingo! Fiquei exultante, andava pra lá e pra cá com minha moto, igual ao Vital da música dos Paralamas. Até que um dia quase morri. Me distraí e atravessei o sinal amarelo. Se o motorista do ônibus não tivesse tão atento, tinha passado por cima de mim. Uma semana depois já tinha me livrado da moto e comprado um carro. Nunca mais quis saber desse negócio. Mudei. Hoje, dirijo em cima de 4 rodas. Sou feliz assim.

Com 24 anos fiz uma tatuagem no braço... Já era. Essa, estará aqui pra sempre.

"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai" (Heráclito)

5 comentários:

Priscilla Acioly disse...

Juro que entrei em pânico lendo o primeiro parágrafo, porque ainda não estava muito claro que isso era um conto [apesar de que, se tratando de vc, eu esperaria no mínimo um "pegadinha do malandro" no final do texto se essa fosse uma história de verdade, rs. Enfim, gostei do texto... e conheço um cara que tá gastando pra lá de 3.000 pra apagar uma tatuagem... rs.

Anônimo disse...

Bom, sinceramente, não tenho nada contra tatuagens, algumas acho até bonitas. Se não coloco uma é porque não tem nada a ver comigo, não consigo pensar em algo que pudesse estar 24 horas estampado no meu braço, por exemplo. Não consigo usar nem relógio, nem cordão, vivo tirando os óculos, imagina uma tatuagem que, inicialmente, não tem como tirar?

Anônimo disse...

tbm me assustei con o primeiro parágrafo e com a parte do Guns... hahahaha muuuito bom!

Anônimo disse...

esse cara do conto esnobou até a jessica alba.

Dagoberto Silva disse...

texto bom é aquele que pertuba. tira do lugar comum, que desafia. faz você relê-lo e de novo, e de novo e novo..

texto serve também para não ser entendido, duvidado, insuportável!

texto bom é aquele que ao chegar ao final, tenho que voltar ao início.

vejo nuances disso nesse seu texto..

abraço

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