Coquinha

Estou aqui por motivo de extrema importância. Também chamada de líquido sagrado e néctar dos deuses, pode ainda ser tratada com carinho: pretinha, neguinha, maria-preta ou mulata. Enfim, vários nomes, um só sabor. Venho em defesa da coca-cola. Eu particularmentes chamo de coquinha porque me considero íntimo. Afinal, ela é sempre bem-vinda à mesa, ao copo e ao coração.

É bem-vinda ao coração no sentido emocional né? Quer me deixar feliz?, me dê uma coca de 600mls. Quer me deixar saltitante de alegria? 2l. Quer me fazer chorar de emoção? 2,5l. Não aconselho a me presentear com 2,75l de coquinha, pode ser demais pra mim. Repare que nem mencionei a lata de 350mls porque pra mim aquilo é coisa de criança. Então, como dizia, faz bem ao coração, mas de forma emocional, subjetiva.

Porque sei que a coquinha não faz tão bem às artérias, taxas de colesterol, celulites (meninas... ) e outras cositas más. Dizem por aí (não que eu acredite nisso) que um copo de coca corresponde a meio copo de açúcar. Exageros à parte, entendi a mensagem: a coca não é lá um Gatorade. Mas vou te dizer as 2 coisas que mais me irritam em relação à essa perseguição nutricional à coquinha!

1ª parada que me deixa bolado) Os naturebas inconsistentes de plantão tratam a coca como o Adolf Hitler rubro-negro, terror da alimentação diária, como se fosse o grande veneno de rato que o mundo todo bebe, mas não vêem problemas nenhum com o Mussoline, Stálin e George Bush, a saber, pizza, picanha e BigMac. (Aliás, a maior ironia do mundo é chegar no McDonald's e pedir suco de uva. Tá querendo enganar quem? Ou não vai no McDonald's ou vai e come direito seu louco!) O que quero dizer é que o que vejo muito por aí é gente comendo várias paradas gordurosas e que não estão na dieta do Paulo Zulu, mas que enchem a boca pra falar que não bebem refrigerante, especialmente a amada pretinha. Perceba o orgulho da pessoa ao diz isso, tente captar a grandeza daquele momento pra ela. Dentro dela nesse instante habita um sentimento de saúde extrema, como se ela fosse um atleta de triatlo ou um índio que só come fruta e peixe sei lá!

2ª parada que me deixa bolado) Após sedimentar em suas cabecinhas verdes a questionável informação de que a coquinha é a grande vilã do mundo e entrarem na comunidade "Não bebo coca-cola", essa gente começa a desenvolver um comportamento fascista de desprezo e às vezes até agressão àqueles que conservam os bons costumes e apreciam a degustação da bebida mais vendida no mundo. O que nós, bebedores, amantes, e por que não, seguidores da coca-cola menos precisamos são olhares reprovadores ou argumentações vazias e pretenciosas do tipo "estou aqui pra mudar pra sempre seu conceito quanto à sua alimentação". Se você cometeu a loucura de abdicar de uma das sensações mais prazerosas que essa vida pode lhe proporcionar, beleza, mas não tente me convencer a isso também!

Sai do meu pé, chulé. Ao contrário dessas pessoas chatas que descrevi anteriormente, não quero convencer ninguém a beber coca-cola. Só quero beber minha coquinha em paz. Luto sim pelo fim do preconceito. Coca-cola não mata ninguém. Não sou nenhum obeso sedentário porque gosto da neguinha. Tô no peso, quando jogo bola demoro a cansar, faço exercícios físicos diariamente, corro de ladrão, atrás de ônibus e subo até meu apartamento no 4º andar sem problemas. Não vou infartar aos 50 anos porque sou chegado numa maria-preta (eu acho esse apelido o máximo!).

Não quer viver o lado coca-cola da vida? Putz, então beleza, cada um no seu quadrado, digo, cada um no seu lado. Eu no lado coquinha e você no lado infelicidade total, vazio no coração! rs

Fechando em alto estilo, Seu Jorge:
"Pretinha/ Eu faço tudo pelo nosso amor./
Eu faço tudo pelo bem do nosso bem, meu bem..."