quinta-feira, 27 de maio de 2010

Anel


Quando eu era moleque ratão da adolescência, comprei um anel de prata boladão porque todo mundo tinha um e eu não podia ficar de fora. Uma questão de inclusão social, saca? Gastei uma grana e comprei! Arrepiei com a aquisição! (Pelo menos era o que eu achava) Até que depois de um tempo deixou de ser modinha aí o negócio do anel desvalorizou. A minha sorte é que mesmo assim, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda acho o anel legal. Sorte mesmo porque muitas coisas que eu usei e adotei hoje em dia não rolaria, tipo o Qix estufado, a corrente de prata, as várias pulseiras bordadas, o cabelo escovinha... calma, brincadeira.

Pois quero homenagear meu querido anel. Uma homenagem sim! Por que não? Esse anel não é normal. Eu e ele, ele e eu temos uma conexão quase que espiritual! Bem, espiritual eu não sei, mas de alguma forma sobrenatural com certeza. Por natureza sou exagerado, hiperbólico, espalhafatoso, às vezes ridículo, mas hoje, sobre meu anel prateado, não digo nada além da verdade.

Eu tenho um sério problema de personalidade, algo que me acompanha desde que eu era um mulequinhu serelepe que só queria jogar bola, brincar de boneco e tocar bateria (é, a música começou cedo na minha vida...). Tenho sérios lapsos de esquecimento. Na verdade acho que tô mais pra ter lapsos de lembrança porque na maior parte do tempo eu esqueço tudo. Qualquer coisa que vai pra minha mão já corre sérios riscos de parar no lixo, na casa de um estranho, no achados e perdidos da rodoviária ou no fundo do abismo.

Já perdi mais dinheiro na vida do que a bolsa de NY em 29. Os valores mais inacreditáveis já fugiram de mim, tomara que tenham sido contabilizados no PIB no final das contas. Chave? Já sou amigo do Seu Fernando, o chaveiro que fica em frente à farmácia da esquina, de tanto que faço chave nova com ele. Documento é uma festa, tudo segunda via. Quer dizer, já tenho terceiras, quartas vias. IDentidade eu já perdi a conta de quantas já foram. Título de eleitor tenho dois! Perdi um, tirei outro, achei o um e fiquei com dois. CPF, bem, CPF eu tenho que tirar outro, perdi... É mermão, o problema é sério.

Por isso que esse anel me impressiona. Ele é tão "perdível" mas permanece firme e forte. E eu não sou daquelas pessoas que esquecem que está usando o anel (me dá um nervoso aquelas pessoas que botaram a aliança quando tinham 70Kg e agora tem 90kg e nunca tiraram! Eu fico angustiado só de ver dedo gordo com anel de magro), eu vivo tirando meu anel pra tudo. Banho, lavar louça, escrever, tocar violão, quando dá na telha... E ele continua aqui, achado! Não que eu não o tenha perdido antes, muito pelo contrário, até porque eu sou o que sou. Mas sempre que o perco, ele volta! Às vezes olho pro pratinha (apelido carinhoso) e me emociono "Como é que pode você ainda estar aí!?" digo pra ele com lágrimas no olhos. Ele fica em silêncio, afinal, anéis não falam.

Mas é impressionante o que acontece. Teve uma vez que o perdi e depois de dias procurando, desisti de encontrá-lo. Uns 3 meses depois fui na casa do meu vizinho e o que vejo na mão do dele? "Meu anel cara!". "Ih, é seu? Apareceu aqui em casa há maior tempão...". Outra vez tava na praia (não é caô) dentro da água. Decidi tirar porque ele tava cheio de areia (é que ele é daqueles que roda, anti-estresse sacoé?) quando de repente caiu da minha mão, no mar da Barra! Mergulhei na hora sacudindo os braços frenéticamente pra ver se encostava nele porque era impossível tentar enxergar. Digno de "vídeos incríveis"!, Uns 4 longos segundos depois, antes que ele encostasse no chão, consegui pegá-lo! Eu acho que esse papo de eu dizer que temos uma conexão que foge normalidade começou nesse dia. E mais outras várias vezes que ele se perdeu e ficou dias por aí na vida do universo à deriva no tempo livre espacial filosófico contrário.

Essa semana mesmo ele deu uma sumida. Achei ontem meu querido amigo. Enfim, já nem considero mais essas ocasiões como perda. Na verdade ele passeia, esparece as idéias. Sabe como é né, uma relação de quase 7 anos tem que ter essa base de confiança. Tentei achar a foto mais antiga minha em que ele aparece prapostar aqui. É engraçado como vejo fotos antigas e ele já tá lá, presente em minha vida. Amigos inseparáveis, quer dizer, mais ou menos. Mas tá tranquilo, quem ama deixa livre.

18 anos, eu acho... ó, pulseiras bordadas também! Yamaha preto, blacksinho curto, um bom vivã.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hahhaa. Me amarrei neste texto. Muito bom saber que tem alguém pior (ou melhor) que eu com relação a perder as coisas. Abraço!

Clarice G. Giannini disse...

Caramba...fiquei emocionada. É a primeira vez que venho ler uma postagem sua... foi Deus (exagero) rsrs. Eu tinha um anel anti-stress, rolante, são tantas definições... muito parecido com o seu ( só que modelo feminino ), foram anos de companheirismo, eu tirava pra tocar violão, tomar banho, sempre dava aquela coçadinha com o polegar no lugar aonde ele estava só pra ter certeza que ele estava lá. E eu o perdi. Não tenho coragem de comprar outro, mas quem sabe? E que vocês tenham muitos e muitos anos pela frente. Brava história Jônatas. Ass: Clarice G Giannini.

Anônimo disse...

por uma época da minha vida fui conhecida como a menina que roda o anel no dedo (que deprimente) mas faz um tempo que ele não está mais entre nós. quanto a esquecimento sofro muito com isso é algo bem chato.. rs admiro o tem de leveza que vc deu ao falar de uma assunto tão pesado: perder documentos.
hahaha! me ammarro nos textos...

Priscilla Acioly disse...

Jônatas, suas estórias verdadeiras estão ficando cada vez melhores e mais inacreditáveis. Adorei essa postagem! Me diverti bastante. Cara... o jeito que tu escreve é muito camarada. É como alguém que aponta pra gente, faz que vem... chega já colocando o braço ao redor do nosso ombro e sai andando. Um amigo intrometido que nem pede pra entrar, e mesmo assim, nos convence.

nota importante: por algum acaso você perdeu um filme chamado O Auto da Compadecida?
Se sim, trago-lhe boas notícias: ele foi adotado no dia da perda, recebeu os cuidados necessários e jaz em boas mãos. A pessoa que o tem sob controle é totalmente responsável e pretende permanecer com a guarda do mesmo. Fique tranquilo, O Auto da Compadecida ganhou um novo dono que o ama demais (bota amor nisso!). Caso você queira negociar, o novo dono só aceitaria no máximo uma guarda compartilhada...

fui!

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