terça-feira, 27 de abril de 2010

Malandro é malandro


[Descendo em Laranjeiras, na sede do Fluminense, querendo comprar ingresso pro jogo Flamengo x Corinthians. Como nunca tinha comprado ingressos ali, precisava pedir informação a alguém. Fui até uma entrada de carros e avistei um sujeito lendo jornal, devia ser o segurança ou porteiro...]

PS: Isso foi segunda-feira. Na quarta seria o jogo do Flamengo x Corinthians no Maracanã e na quinta, também no Maracanã, Fluminense e Grêmio. Eu sabia que ali estavam sendo vendidos ingressos para as duas partidas.

- Aí irmão! Bilheteria?
- Chega aí primo!
- Só quero saber onde é a bilheteria!
- Chega aííí primo!
[Não tive opção. Só queria a informação, mas o cara insistiu em me chamar. Andei os 10 metros que nos separavam. Nessa caminhada de 7 segundos, o cara já tinha fechado o jornal, levantado, aberto um sorriso e erguido a mão pra apertar a minha.]
- Fala aí primo!
- E aí...? To atrás da bilheteria...
- Vou te dar um presente!
- Presente?
- Tu é tricolor mesmo?
[Ele disse presente?]
- Sou, por quê?
- Vou te arrumar umas peças, ta afim?
[Que sorte! Foi com a minha cara!]
- Ué, presente é presente né?
- Que você quer? Blusa, agasalho, short, meião, vai de quê?
- Uma blusa já ta bom pra caramba.
- Mas tu é tricolor mesmo?
- Sou pô! O Fred vai te pegar! rs
- E vai querer quantos ingressos pro jogo!?
[Putz, e agora? O que eu vou fazer com ingressos pro jogo do Fluminense?]
- Um só, só pra mim...
- Ta com quanto aí pra gente fazer negócio?
- Que negócio o que rapá! rs
- Ué, tu quer a blusa ou não quer?
- Tu quer fazer negócio na blusa? Não era presente?
- Beleza então, compra 2 ingressos comigo e leva a blusa.
[Hora da verdade]
- Na verdade irmão, eu to atrás de um ingresso pra mim e também vou comprar um ingresso pra um amigo meu, pro jogo do Flamengo quarta.
- ...
[Acho que ele sacou]
- Tu é tricolor mermo maluco?
- Sou pô!
- ...
- ...
[Ops, fui descoberto]
- Tu é flamenguista rapá!
- Sou não cara!
- Sai saindo rapá, tu é flamenguista!
- E minha blusa?
- Que blusa o quê!

Deu as costas e saiu. No final da conversa já estávamos rindo um do outro. Ele sacou que eu era flamenguista e eu saquei que ele tinha sacado. E nem me disse onde era a bendita bilheteria! Quando saí, vi que tinha passado em frente à bilheteria pra chegar ali, impressionante não ter visto! Com certeza o sujeito estava de bobeira lendo seu jornal e quando surgiu um trôxa perguntando sobre um lugar que estava na cara dele, era a hora de tentar tirar um trocado. Ele queria mesmo era me enrolar. Malandro é malandro, mané é mané...

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Insônia


O que é sonho e o que é realidade? É complicado quando o zunir de um mosquito é ensurdecedor e o toque do telefone parece um som abafado, debaixo d'água. A insônia está judiando de Ernesto. As olheiras e a palidez não me deixam mentir.

Já perdeu a conta de a quantos dias não dorme. Já perdeu a conta também de a quantos dias não acorda. Nada é real, ou não. Ernesto não aguenta mais. Seu corpo cansado insiste em não ceder. Permanece num estado de sonolência imbecilizada que o transforma numa marionete mal humorada e constantemente atrasada, em movimentos e raciocínios.

Está perdendo a razão. A voz de sua mãe parece estar dentro da sua cabeça, como que uma alucinação. Já as vozes da TV são reais, vivas, são como amigos de infância que o encontram diariamente. Ernesto é amissíssimo de William Bonner, mas não vai muito com a cara de Ana Maria Braga. Vive brigando com ela, diz na sua cara que não passa de uma fofoqueira. Benditas vozes da TV, de uma delas veio a salvação.

Um uruguaio de bigode estranho exultava no canal 17 "Yo soy Gabito Belizare i yo trago la solucion para seus problemas. El guia de auto-hipnose de Gabito Belizare! Cun apenas una atividad, usted puede curar-se para siempre! Mira: Mal-humor, pessadelos, envelhecimiento i caduquice precosses, imnsonia, impotência sexual. Retome o poder de tua vida hombre! Cate agorita o tele e disque 0300 117711 0267 e adquira el guia de auto-hipnose!"

- Obrigado Gabito, sabia que podia contar com você - sussurrou Ernesto, como se o estranho uruguaio pudesse lhe ouvir. E sem demora pegou o telefone.

Trê dias depois uma voz na sua cabeça lhe informou que chegara uma correspondência do Paraguai. "É Uruguai, mas tudo bem..." pensou Ernesto enquanto corria como uma lesma em direção sua salvação "Passo a passo?" - exclamou - "Isso vai ser mais fácil que dar tapa em bêbado!". O guia mandava e Ernesto obedecia:

"Vá para um lugar silencioso"
- Banheiro, ok!

"Pegue algum objeto que sirva de pêndulo e um copo com água bem gelada."
- Ok, aqui - Estava agora empolgadíssimo. Sempre gostou de um relógio de bolso que seu avô deixara pra sua mãe, mas nunca lhe foi útil. A essa altura Ernesto já tinha certeza que sua insônia estava chegando ao fim.

"Agora deligue-se do mundo. Pegue o pêndulo e balance em frente ao rosto a uma distância de um palmo, repetindo três vezes as palavras 'caramujo sujo solta o pato manco'"
- Caramujo sujo solta o pato manco! Caramujo sujo solta o pato manco! Caramujo sujo solta o pato manco! ok!

"Beba lentamente o copo com água bem gelada"
- gut gut gut, ok!

"Este é o momento! Agora diga o que queres que te aconteça."
Talvez, caro leitor, você lamente que Ernesto estivesse nesse momento em meio a uma mistura perigosíssima: grande empolgação por estar se auto-hipnotizando, mas com as idéias tortas pelos tantos dias sem dormir. Tudo aconteceu muito rápido, pobre Ernesto. Nunca saberemos porque cargas d'água não falou simplesmente "quero dormir". Ao invés disso, como num estalo, uma eureka, cometeu grande imbecilidade que lhe custará muito caro. Mas verdade seja dita: solucionou seu problema.
- Eu quero ser um peixe!

Admitamos, peixe não dorme. Não sente sono, portanto. A força da mente é de fato impressionante. Ninguém acredita quando Ernesto diz que já não dorme e não se sente cansado há quase quatro meses. Sua insônia está curada. Por outro lado, algumas incoveniências repentinas. Ernesto toma em média sete banhos por dia, assiste "Procurando Nemo" todas as madrugadas e tem um medo de gato que o caro leitor não imagina...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

É o fim


O Papa é pop! Bem, vamo combinar que esse aí não é não. O João Paulo II, mesmo caquético e com síndrome de Parkson era pop, esse Bento XVI é alemão! Como é que querem que o cara seja pop!? A prima da minha namorada voltou esses dias da Europa e disse que no Vaticano ficou impressionada. A galera não tava nem aí pro papa, a fila por lá é pra ir ao túmulo do ex-papa!

Bem, mas mesmo não sendo pop, o papa é papa né!? Estou abismado com a notícia de que o pontífice será processado judicialmente pelo crime de enconbrir padres que molestaram sexualmente menores no Vaticano, na época em que o Bento ainda era Cardeal Joseph Ratzinger. Como assim!? Querem prender o papa!! Isso é possível? Deve ser contra alguma lei da natureza o papa ir em cana, não?

Ao ler essa notícia cheguei a conclusão de que o mundo está mesmo se acabando. Está tudo muito claro, o fim está chegando. É melhor já irmos nos despedindo daquele que amamos porque os sinais do apocalispe estão por todos os lados, é só olharmos com mais sensibilidade. As 7 trombetas já estão tocando...

TrombetaI
Kleberson vai pra copa, Ronaldinho Gaúcho não
TrombetaII
Rick Martin (UÊPA!) sai do armário
TrombetaIII
A série Lost chega a seu fim
TrombetaIV
Michael Jackson morreu, assim como Elvis
TrombetaV
FLA ganha carioca, Liberta, Brasileiro e Mundial em 2010
TrombetaVI
Ivete Sangalo engordou
TrombetaVII
O Papa vai em cana

É tudo muito impressionante. Não há mais dúvidas: é o fim.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Tijuca




Fui inocente. Com meus próprios pés me direcionei pro lugar onde mora tantas armadilhas, onde tantos entraram e tão poucos de lá saíram. Lugar onde homens sábios enlouqueceram e até taxistas se acharam transtornados. Fui inocente. Com meus próprios pés me direcionei pro labirinto do Minotauro, mais conhecido como Tijuca.

Tijuca é um bairro da zona norte do Rio que mantém uma pompa de zona Sul. Rodeada de favelas (macacos, formigas e outros animais), com um colégio Pedro II, um Maracanã, alguns shoppings e uma praça de nome exótico, a Tijuca tem várias particularidades. Falarei, porém, da principal: seu labirinto sem fim.

Só quem nasceu e cresceu no labirinto do Minotauro é capaz de se manter são em meio às 278 ruas mão-única iguais, com casas antigas e prédios parecidos, repletas de agencias bancárias, Sendas, bancas de jornal e flanelinhas. Sem falar de uns shoppinzinhos loucos que entram numa calçada, furam o quarteirão e saem em outro lugar, como portais que ligam dimensões ou os sete infernos, sei lá.

Já perdi a conta de quantas vezes me perdi na Tijuca. Você acha que sabe onde está quando de repente percebe que já é a terceira vez que você passa em frente ao McDonald’s. “Mas pode ser outro McDonald’s” você pensa. “Mas a Casa Cruz não era ali... É, to perdido”. Depois da constatação, não há mais nada a fazer a não ser sair andando a deriva até que seu cérebro reconheça alguma coisa. Com sorte você encontrará uma entrada do metrô ou a praça.

A Praça Saens Peña é onde mora o Minotauro. É por ali que você encontrará sua liberdade, pois é o único lugar que faz sentido na Tijuca. Na praça há ônibus devidamente endereçados e a entrada principal do metrô onde se vê pessoas aliviadas deixando o labirinto e outras chegando com olhares apreensivos, incertos do que estão fazendo ali.

Se você tiver algo a fazer por aquelas bandas, seja cauteloso. Leve um nativo da região ou se renda ao táxi. Não adianta levar mapas, pode ter certeza que quem desenhou o mapa também já se perdeu na Tijuca. E nem pense no auxílio de uma bússola porque elas enlouquecem assim que se aproximam do labirinto. Ah! E de forma alguma dê o mole de estar lá à noite. Na escuridão da noite é quando o Minotauro mais faz suas vítimas.
 
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